Obra aposta na informação para prevenir dependência química

Conversar sobre drogas com adolescentes é tarefa difícil, mas amplamente necessária: a informação é o melhor caminho na prevenção da dependência química, dizem os especialistas. Conhecer os efeitos de cada entorpecente, sua composição química e os danos que provoca no organismo pode ajudar a prevenir desfechos trágicos no envolvimento do jovem com as drogas.

null Para esclarecer ao máximo essas e outras dúvidas, o livro Que droga é essa? pôs lado a lado depoimentos de usuários, familiares e profissionais como advogados, psicólogos, médicos e pedagogos, sem assumir uma postura alarmista ou moralista, em linguagem simples voltada para os jovens.

O livro foi elaborado a partir de uma obra similar publicada na Inglaterra em 1996 por três especialistas em drogas e comportamento jovem. A edição em português, adaptada por Lidia Chaib, manteve a estrutura do original, mas substituiu os depoimentos por relatos de brasileiros e incorporou estatísticas sobre o consumo de drogas no país.

Cada capítulo é dedicado a uma substância lícita ou ilícita — maconha, álcool, alucinógenos, anfetaminas, tranqüilizantes, cocaína, ópio, heroína e anabolizantes. Além dos depoimentos, o texto traz dados históricos e científicos, estatísticas atuais sobre o uso, o que diz a legislação brasileira a respeito e algumas curiosidades. Há também um glossário com denominações coloquiais e científicas de cada droga e de termos relacionados ao seu uso.

O livro mostra, por exemplo, que a droga ilegal mais consumida no mundo é a Cannabis sativa (nome científico da maconha). Cerca de 300 milhões de pessoas no planeta “fazem uso recreativo” dessa erva, e há registros de seu cultivo que datam de mais de 5 mil anos no Egito e na China, onde tinha fins medicinais. É possível saber ainda que a cocaína — em geral, um pó branco, cristalino, inodoro e solúvel em água — era adicionada à Coca-Cola até 1903, quando se tornou ilícita e foi substituída na fórmula do produto pela cafeína, droga estimulante mais comum em todo o mundo.

Sobre os solventes (lança-perfume, cheirinho-da-loló), entorpecentes a base de clorofórmio e éter, há informações de que 50% das mortes de usuários jovens são por ataque cardíaco. Quando inalada, a substância produz uma agitação eufórica, confusão mental, desorientação e náusea, e o uso intenso pode causar danos irreversíveis ao cérebro, rins, fígado e pulmões. Quanto ao ecstasy, cuja substância ativa é a metiodioxometanfetamina (MDMA) sintetizada na Alemanha em 1912, o maior perigo é a qualidade das pílulas vendidas — mais da metade é resultado de misturas feitas até com pastilhas vermífugas para cachorro e purificadores de caixa d’água.

As informações reunidas no livro ajudam a derrubar alguns tabus sobre as drogas e a compreender o quanto é importante o conhecimento para reduzir os danos causados pelo uso entre os jovens. Não é à toa que a obra tem uma seção chamada ’Se você for preso’, onde o leitor é informado acerca dos comportamentos legais e ilegais durante uma abordagem policial. Afinal, como observa a psicóloga Rosely Sayão no prefácio, “é muito mais viável procurar reduzir os riscos no uso de drogas do que imaginar que podemos acabar definitivamente com elas”.

Que droga é essa? – a verdade sobre a droga e seus
efeitos; por que as pessoas usam e o que sentem
Aidan Macfarlane, Magnus Macfarlane e Philip Robson
(adaptação: Lidia Chaib; tradução: Alexandre B. de Souza)
São Paulo, 2003, Editora 34
199 páginas – R$ 25

Maria Ganem
Ciência Hoje On-line
25/06/03