Vem diretamente da flora brasileira uma nova alternativa para o controle das placas bacterianas, que muitas vezes resultam em cáries dentárias. Pesquisadores descobriram que o óleo da castanha-do-pará, já conhecida pelo seu rico valor nutricional, pode ser benéfico para a saúde bucal.
A descoberta não foi por acaso. A partir de depoimentos de seus pacientes, a dentista Cintia de Fátima Buldrini Filogônio decidiu testar tal propriedade da castanha-do-pará durante seu mestrado em Ciências da Saúde na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). “Alguns pacientes de quadro saudável comentavam que tinham o hábito de escovar os dentes e fazer bochechos com óleos”, conta Cintia.
Ao pesquisar mais profundamente o tema, a dentista encontrou diversas referências sobre o uso de óleos vegetais na odontologia, como o da maleleuca, planta nativa da Austrália, e o do cravo, especiaria indonésia. Mas nenhum estudo mencionava a utilização de óleos derivados de produtos brasileiros.
Foi então que surgiu a ideia de testar o óleo da castanha-do-pará. Segundo a pesquisadora, a castanha, por ser um alimento gorduroso e oleoso, poderia inibir a formação da placa bacteriana, criando uma barreira protetora sobre o esmalte. Também contribuiu para a escolha o fato de a castanha-do-pará ser de fácil obtenção e de seu óleo ser de fácil extração.
A dentista decidiu testar também o uso de óleos minerais no combate à placa, já que não havia identificado em sua pesquisa bibliográfica qualquer referência sobre a aplicação desses óleos em tratamentos antibacterianos. “O óleo mineral pode até ser encontrado em algumas pastas dentais, mas em quantidades muito pequenas e para dar viscosidade”, afirma.
Para comparar ao óleo de castanha, Cintia escolheu um óleo de origem mineral à base de hidrocarbonetos líquidos obtidos de petróleo, usado normalmente como laxante ou para hidratar a pele.
Em um ensaio clínico duplo-cego, ou seja, em que nem os participantes nem os pesquisadores sabiam qual substância estava sendo ministrada a cada um, 30 alunos da Faculdade de Odontologia da PUC-MG, com idades entre 18 e 21 anos e hábito de escovar os dentes regularmente, foram divididos em três grupos de dez.
Todos receberam cremes dentais da mesma marca, mas enquanto em um grupo o creme era puro, nos outros as pastas foram misturadas aos óleos – um recebeu creme com 10% de óleo de castanha e o outro com 10% de óleo mineral. Os participantes também ganharam escovas de dente iguais, para a marca e o estado das escovas não interferirem nos resultados. Durante três meses, foram orientados a escovar os dentes normalmente.
Análise progressiva
A cada 15 dias os voluntários eram submetidos a avaliações. Nessas ocasiões, a dentista aplicava um corante sobre os dentes dos voluntários e os classificava de acordo com as manchas resultantes, seguindo uma tabela pré-definida de coloração dentária.
Ao analisar os dados estatisticamente, a pesquisadora verificou que os grupos que usaram os produtos com óleos mineral e vegetal tiveram redução da placa bacteriana e melhores resultados do que o grupo que usou o creme dental puro.
Apesar de os efeitos dos óleos terem sido similares, a pasta com o extrato de castanha obteve resultado mais significativo. Segundo Cintia, os óleos essenciais extraídos de plantas, além de possuírem propriedades antibacterianas e de manterem a saúde gengival, também funcionam como bons antifúngicos e antioxidantes.
A dentista acredita que a eficácia comprovada no estudo, que recebeu o segundo lugar no 12º Prêmio Saúde 2012, e a busca crescente dos consumidores por produtos naturais podem aumentar a procura pelo uso de óleos vegetais em tratamentos odontológicos.
Apesar dos resultados positivos, ela alerta que o uso de óleos como o da castanha-do-pará não deve substituir a escova e o fio dental, pois o uso mecânico desses objetos é fundamental para a remoção de placas e a prevenção de cáries.
Camille Dornelles
Ciência Hoje On-line