Os caça-corantes

Os fungos são comumente empregados na indústria alimentícia e na produção de ácido cítrico e enzimas. Estudo recente, feito pelo estudante Lucas Hansen durante o curso técnico de química da Escola Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo (RS), mostrou o potencial desse micro-organismo para descontaminar corpos d’água poluídos por corantes.

No estudo, foi empregado o fungo Aspergillus niger, conhecido popularmente como ‘bolor negro do pão’

O trabalho – feito com a colaboração do colega William Lopes, sob orientação da química Carla Ruschel – foi direcionado para tratar efluentes das indústrias de processamento de couro do Rio Grande do Sul. A pesquisa recebeu o primeiro lugar na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), em Nova Hamburgo (RS), e foi escolhida para participar em 2009 da Feira Internacional de Ciência e Engenharia (Isef, na sigla em inglês), a maior feira escolar de ciências do mundo, realizada anualmente nos Estados Unidos.

No estudo, foi empregado o fungo Aspergillus niger, conhecido popularmente como ‘bolor negro do pão’. A escolha do micro-organismo se deve ao fato de ele ser bastante comum na natureza e de ter um amplo histórico de uso industrial.

Métodos de remoção

Os corantes são difíceis de remover do meio ambiente devido à sua densidade, que é próxima à da água (aproximadamente 1g/cm³, em condições normais de temperatura e pressão). Apesar disso, são bastante usados, em especial na indústria de couro e de tingimento de tecidos. No Rio Grande do Sul, onde a indústria coureira é muito ativa, a demanda por processos de remoção de corantes é grande.

Caça-corantes
Imagem microscópica de hifas do fungo filamentoso ‘Aspergillus niger’, conhecido popularmente como ‘bolor negro do pão’. Os fungos podem ser unicelulares ou filamentosos. Nestes, os filamentos crescem emaranhados, formando o micélio (massa de filamentos). Cada filamento do micélio recebe o nome de hifa (foto: Y_tambe / Wikimedia Commons).

 

Três métodos de remoção são mais usados hoje: osmose reversa (que transfere a substância para um meio menos concentrado), oxidação por meio de ozônio ou luz (que altera a estrutura das moléculas do corante) e adsorção por carvão ativado (o corante é fixado na superfície de um carvão especial).

“Cada método tem seu ônus”, lembra Hansen, que atualmente cursa engenharia química na Universidade de Caxias do Sul (RS). Segundo ele, a osmose e a oxidação são métodos caros, e a adsorção é pouco eficiente. Daí por que é tão importante encontrar novas formas, eficientes e baratas, de extrair corantes do meio ambiente.

O pulo-do-gato do trabalho de Hansen e Lopes está na descoberta do modo como o fungo identifica os corantes: como nutrientes que ele naturalmente consome. A similaridade desencadeia o processo de absorção, e A. niger capta a substância por meio de seus filamentos (hifas).

“O limite de absorção do fungo deve ser determinado experimentalmente e varia conforme a espécie”, diz Hansen. Segundo ele, é possível que, a médio prazo, o procedimento seja implantado em escala industrial, conforme os estudos avancem. Hansen destaca também que no momento estão sendo feitas pesquisas com o objetivo de identificar outros fungos capazes de realizar a mesma tarefa desempenhada por A. niger.

 

Guilherme de Souza
Especial para a CH On-line / PR