Os tsunamis gerados por um terremoto submarino devido ao atrito entre as placas tectônicas norte-americana e do Caribe podem ameaçar cerca de 35,5 milhões de pessoas (imagem: USGS)
A chance de um terremoto submarino na região norte do Caribe causar um desastre natural de proporções similares ou piores que o ocorrido no oceano Índico no final de 2004 é alta. É o que afirmam cientistas das universidades da Carolina do Norte e do Texas, ambas nos Estados Unidos, em artigo publicado em 22 de março na revista Eos . A partir de um levantamento histórico dos tsunamis acontecidos naquela região, os pesquisadores avaliam que o risco para habitantes da área ‐ cerca de 35,5 milhões de pessoas ‐ é devido principalmente ao encontro das placas tectônicas norte-americana e caribenha, cujo atrito pode gerar terremotos submarinos de grande intensidade.
Embora diversos fenômenos naturais possam provocar tsunamis na região, os pesquisadores concentraram seu trabalho na falha geológica de 3.200 km que se estende do norte da América Central até as Pequenas Antilhas, passando pelas Grandes Antilhas (Jamaica, sul de Cuba, a ilha Hispaniola ‐ Haiti e República Dominicana ‐, Porto Rico e Ilhas Virgens). No passado, o atrito entre as duas placas tectônicas gerou ondas de até 12 metros de altura, cujo efeito se propagou por 2.200 km.
Foram registrados seis tsunamis que causaram mortes na região desde 1492. Quatro deles tiveram origem em um ponto da falha, que fica próximo à ilha Hispaniola e a Porto Rico, associado a grandes terremotos históricos. O primeiro ocorreu em 1692 e destruiu a cidade de Port Royal, na Jamaica. Houve 2 mil mortes, mas não se sabe quantas foram devidas ao tsunami . Em 1781, também na Jamaica, uma onda de três metros varreu a costa sul da ilha e matou 10 pessoas. Esta, no entanto, pode ter sido causada por um furacão, e não um terremoto submarino.
O tsunami de maior alcance ocorreu em 1842 e afetou a costa norte de Hispaniola e as Ilhas Virgens. Centenas de pessoas morreram no incidente, mas não se sabe ao certo quantas perderam a vida em função das ondas. Em 1867, um terremoto de 7,5 pontos na escala Richter (usada para medir a intensidade desse fenômeno) lançou sobre as Ilhas Virgens ondas que variaram de 2,4 a 12,1 m e mataram 17 pessoas. Outro tremor, de mesma magnitude, gerou ondas de 6 m, que causaram 40 mortes em Porto Rico em 1918. O mais recente tsunami , de 1946, foi também foi o mais destrutivo, causando aproximadamente 1.700 mortes no costa nordeste da República Dominicana.
Os pesquisadores analisaram ainda duas áreas na costa norte de Porto Rico com sinais de deslizamentos de terra submarinos, que podem ter produzido imensos tsunamis pré-históricos. “O volume de material deslocado, cerca de 1.400 km 3 , é similar ao do deslizamento de Storegga, na Noruega, que produziu ondas de até 30 m na costa da Escócia”, explica Nancy R. Grindlay, da Universidade da Carolina do Norte, em entrevista à CH On-line . Ela acrescenta que o mapeamento da região encontrou outras áreas onde novos deslizamentos podem acontecer. “Segundo nossa estimativa, algo em torno de 500 km 3 de material poderiam ser movimentados por um único evento catastrófico”, avalia.
Grindlay conta que o grupo pretende investigar agora a influência de fluxos de água subterrâneos no eventual colapso dessas estruturas. “Essas fontes podem desgastar lentamente a plataforma, contribuindo para o risco de deslocamento. Devemos ir ao local em abril, quando também tentaremos datar o material e determinar o intervalo de tempo entre os deslizamentos”, informa.
Fred Furtado
Especial para a CH On-line
21/03/2005