Otimização no combate à Aids

Estima-se que existam 34,2 milhões pessoas com o vírus HIV no mundo, 70% delas na África subsariana, segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre Aids (Unaids). A iniciativa também calcula que seria possível controlar a doença até 2015 com as políticas de prevenção e tratamentos disponíveis hoje pelo custo médio de 22 bilhões de dólares anuais. A conta serve de guia para países que lutam contra a Aids, mas como e onde investir esses recursos não é uma questão simples.

Para resolvê-la, políticos e pesquisadores de saúde devem analisar objetivamente o cenário epidemiológico de seus países e usar modelos de custo eficientes. Esta é a opinião da especialista em saúde pública Sarah Alkenbrack, vice-diretora do programa de custos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), órgão norte-americano que oferece assistência técnica nas áreas de educação e saúde a outros países.

Alkenbrack, que participa do II Simpósio Global sobre Pesquisas em Sistemas de Saúde, em Beijing (China), tem quase dez anos de experiência em consultoria financeira e administrativa para o controle da Aids, especialmente em países africanos. Ela e sua equipe desenvolvem, em parceria com pesquisadores locais, modelos administrativos para alocação de recursos no combate à doença que tornem possível gastar menos ao investir em áreas estratégicas.

“Não necessariamente é preciso ter um grande orçamento; às vezes, pequenas mudanças podem fazer a diferença”

“Desde a descoberta da Aids, programas e fundos internacionais têm feito investimentos sem precedentes em tratamento e prevenção, mas, se comparamos os dados epidemiológicos com os recursos em nível internacional, vemos que existe um problema, o dinheiro não está sendo bem alocado”, diz Alkenbrack.

Segundo a pesquisadora, grande parte dos países com alta prevalência de Aids, principalmente na África, não possuem um plano estratégico para o combate à doença baseado em evidências científicas sobre seu contexto epidemiológico, cultural e econômico.

“Modelos de alocação de recursos devem levar em conta elementos básicos, como, por exemplo, de onde vem o dinheiro, de onde vai vir no futuro, quais intervenções atuais são efetivas, onde os recursos estão sendo gastos e onde realmente deveriam ser aplicados”, diz Alkenbrack. “Não necessariamente é preciso ter um grande orçamento; às vezes, pequenas mudanças podem fazer a diferença.”

Redução acertada

Atualmente, a economista e sua equipe estudam modelos de alocação de recursos para tornar a circuncisão masculina voluntária um procedimento acessível no sistema público de saúde de 13 países africanos. A intervenção vem sendo apontada por pesquisadores como um modo de diminuir o risco de transmissão do HIV e pode ser também uma forma de economizar recursos.

O acesso público à circuncisão poderia reduzir em 25% a chance de novos casos de Aids na Tanzânia até 2025

Segundo estudo feito por pesquisadores da Tanzânia em parceria com a Usaid, o acesso público à circuncisão pode reduzir em 25% a chance de novos casos de Aids no país até 2025. O levantamento também aponta que cada dólar gasto com o procedimento equivale a 6,4 dólares de economia nos gastos com tratamentos futuros para pacientes com HIV.

“O programa de circuncisão é muito fascinante e nossas análises têm ajudado países a entender os benefícios de tornar essa simples intervenção uma prática de larga escala”, diz Alkenbrack. “Esse é apenas um exemplo do que pode ser feito para melhorar o combate à Aids levando em conta o contexto local e com base em evidência científica.”

Sofia Moutinho*
Ciência Hoje On-line

* A repórter viajou à China a convite da OMS.