Outra forma de ver o mundo

 

Andar em lugares desconhecidos, repletos de obstáculos potenciais, representa um risco para os deficientes visuais. Mas esse problema pode ser minimizado com o uso de uma “bengala eletrônica” criada por pesquisadores brasileiros. O dispositivo consegue localizar objetos a três metros e meio de distância, além de ser capaz de identificar cores. Um protótipo portátil e de baixo custo do aparelho foi desenvolvido na Faculdade de Engenharia Eletrônica da Fundação Educacional Inaciana (FEI).

Uma deficiente visual usa o protótipo da bengala eletrônica que identifica obstáculos desenvolvida na FEI (foto: Divulgação / Cia. de Imprensa).

“O aparelho emite um sinal sonoro quando identifica obstáculos à frente. Quanto mais próximo o objeto, menos espaçados ficam os sinais sonoros. Ele demonstrou ser muito seguro quando testado por um deficiente visual, pois tem um alcance muito maior que o de uma bengala comum”, diz o engenheiro elétrico Mário Kawano, responsável pelo projeto. “O custo está em torno de R$ 300,00 e já estamos estudando propostas para produzir o dispositivo comercialmente.”

A bengala eletrônica tem duas partes, um módulo central e uma espécie mouse com os dois sensores (cor e distância), onde ficam os dois botões com comandos para identificar os obstáculos e as cores. “Seu manuseio é bem simples e os botões possuem legenda em braille. O aparelho pode ficar dentro da mochila ou preso na cintura e está apto a identificar qualquer tipo de obstáculo, sejam buracos, postes ou árvores”, ressalta Fábio Misserino, um dos alunos que participaram do projeto. Segundo Kawano, que orientou o projeto, o dispositivo tem o tamanho de um telefone comum, mas é possível diminuí-lo ainda mais.

Seu mecanismo de funcionamento também é simples. A localização dos objetos é feita por meio de sensores ultra-sônicos, ou seja, o aparelho emite ondas inaudíveis para humanos e verifica como elas foram refletidas. O mecanismo permite identificar se há um obstáculo que pode atrapalhar o movimento e avisa o deficiente. Apesar disso, ele não informa exatamente onde o objeto se encontra – para isso, é preciso que a pessoa estique a mão e descubra.

Já para identificar as cores, o aparelho emite raios luminosos com as cores primárias e determina a cor do objeto que está na sua frente com base na cor refletida. A identificação é pontual, ou seja, os raios batem num ponto específico de uma roupa, por exemplo, e a ‘bengala’ informa a cor desse ponto. “Se o deficiente colocar o aparelho na frente da parte branca de uma blusa branca e preta, o detector interpretará branco”, exemplifica Kawano.

Similar catarinense
Existe ainda outra “bengala eletrônica” com características similares à desenvolvida na FEI, criada por pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. Em vez de produzir sinais sonoros para alertar os deficientes visuais, o aparelho emite um sinal tátil que se torna mais incisivo à medida que os obstáculos se aproximam.

“O projeto existe há três anos e estamos numa fase bastante avançada. Entramos com o pedido de patente no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual e queremos que ele esteja logo no mercado porque não há muitos produtos desse tipo no país”, diz o engenheiro elétrico Alejandro Garcia Ramirez, responsável pelo projeto. Ele salienta que é importante a realização de pesquisas nessa área. “Há poucos aparelhos para auxiliar portadores de deficiência no mercado. Quando existem, são importados e custam muito caro”, justifica. 

Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
31/07/2006