Pais dinossauros cuidavam do ninho

Representação artística de um troodonte cuidando de sua ninhada. O estudo indica que, nessa espécie que viveu há cerca de 75 milhões de anos, o macho protegia os ovos enquanto a fêmea buscava alimentos. Clique na imagem para ampliá-la (arte: Bill Parsons).

Em mais de 90% das espécies de aves atuais, é o macho que cumpre sozinho o papel de cuidar da ninhada e chocar os ovos. Uma pesquisa norte-americana sugere que esse comportamento surgiu há algumas dezenas de milhões de anos: a análise de fósseis indica que, em algumas espécies de dinossauros, eram os pais que tomavam conta do ninho.

Os pesquisadores analisaram fósseis de ovos e ninhos de vários dinossauros, bem como suas estruturas ósseas. As características encontradas em três espécies levaram-nos a concluir que eram os pais e não as mães que cuidavam da ninhada. As espécies em questão – troodonte, ovirraptor e Citipati – viveram no Cretáceo Superior, entre 100 milhões e 65 milhões de anos atrás, e estão entre os répteis pré-históricos mais aparentados com as aves modernas.

Um dos fatores que permitiu formular a hipótese é o tamanho dos ovos, muito grandes se comparados ao tamanho dos dinossauros adultos, e o tamanho da própria ninhada. “É difícil para fêmeas chocar grandes ninhadas de ovos”, explica à CH On-line Jason Moore, pesquisador da Universidade do Texas A&M e um dos autores do artigo que apresenta as conclusões, publicado na revista Science desta semana.

Outro argumento usado pelos pesquisadores é a necessidade de energia para que as fêmeas botassem ovos maiores. “Era preciso que os machos cuidassem da ninhada e deixassem as fêmeas livres para se alimentar e obter nutrientes para que fossem capazes de produzir ovos maiores”, explica à CH On-line Frankie Jackson, pesquisador da Universidade do Estado de Montana e também autor do artigo.

Os pesquisadores compararam o tamanho da ninhada dos dinossauros com as de aves e crocodilos atuais – os grupos de animais contemporâneos mais próximos a esses répteis pré-históricos. Os resultados mostram que eles são comparáveis relativamente apenas com as espécies de aves em que o macho cuida da ninhada.

A foto mostra ovos de troodonte, muito grandes em comparação com o tamanho dos dinossauros adultos. Por isso, os pesquisadores acreditam que essa espécie tinha um sistema paternal de proteção à cria (foto: Museum of the Rockies).

Também foi analisada a estrutura óssea de dinossauros adultos encontrados sentados em ninhos. Os ossos dos répteis das três espécies citadas acima não tinham tecidos especiais que as fêmeas de aves apresentam antes e durante o período dedicado a chocar os ovos. Por isso, os pesquisadores deduziram que esses ossos pertenciam a machos, ao combinar essa pista com a análise do tamanho das ninhadas.

Outros sistemas de proteção
Os autores acreditam que outras espécies de dinossauros podiam apresentar ainda o sistema maternal de proteção aos filhotes e o biparental, em que macho e fêmea exercem esse papel. “É bem possível que sistemas diferentes de proteção à cria tenham existido em outros dinossauros”, imagina o primeiro autor do artigo, o pesquisador David Varricchio, também da Universidade do Estado de Montana. “Algumas espécies tinham ninhadas de ovos muito menores se comparadas ao tamanho de seus corpos.”

Jason Moore ressalta que esse estudo ajuda a entender a evolução do sistema paternal de cuidado com a cria e aprimora o conhecimento existente sobre a ecologia dos dinossauros. “É impressionante que, usando os dados e as perguntas certas, tenhamos conseguido deduzir que ovos de animais mortos há 75 milhões de anos eram muito provavelmente protegidos por seus pais e não por suas mães, mesmo que ninguém nunca tenha visto esses animais vivos”, comemora.

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
18/12/2008