Para telefonar e pagar contas

 

Os cartões de crédito ou débito que o consumidor leva no bolso significam, para os estabelecimentos comerciais que aceitam esses meios de pagamento, taxas que variam de 1,5% a 4,5% por transação financeira. E mais R$ 150,00 mensais, em média, para manter a máquina leitora de cartões. Um modo de driblar os custos das operadoras de cartão passa pelas mãos dos compradores: o telefone celular. Em alguns países já existem empresas especializadas em pagamento via celular, que representa menos custos para o comerciante e mais facilidades para o consumidor. 

A equipe do projeto WapCash desenvolve um sistema de pagamento de contas via celular e internet que se adapte à realidade nacional. (Foto cedida por Marcelo Medeiros/ Unisul)

Mas o sucesso da inovação no Brasil depende de o brasileiro descobrir as vantagens desse tipo de prestação de serviço. Para viabilizar esse cenário, um grupo de pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) estuda o desenvolvimento de um modelo seguro de pagamento por meio do telefone celular, adaptado ao perfil do usuário nacional e aos recursos técnicos e financeiros disponíveis. “Buscamos um sistema para o brasileiro que gasta em média R$ 200 com cartão por mês e que ainda não se habituou a instalar e a liberar programas no aparelho”, diz o cientista da computação da Unisul Marcelo Medeiros, coordenador de desenvolvimento do projeto de pagamentos via celular denominado WapCash.

O sistema usa a tecnologia WAP 2.0 (do inglês Wireless Application Protocol ), padrão de comunicação entre equipamentos que dispensa o uso de fios e permite acesso à internet pelo celular. Para utilizá-lo, o consumidor deve cadastrar-se na página da prestadora do serviço na internet e pedir a ativação de uma conta, que será criada se o solicitante não tiver restrições de crédito. O cliente recebe então um nome e uma senha de acesso, que ele utilizará para fazer pagamentos, atualizar dados cadastrais e acompanhar movimentações financeiras.

No ato da compra, o estabelecimento identifica o consumidor pelo código único de cadastro no WapCash e faz, pela internet, uma solicitação de pagamento. O cliente acessa a página do serviço pelo celular, informa o nome de acesso e a senha (que não ficam armazenados no aparelho) e localiza a ordem de pagamento, podendo escolher a bandeira do cartão com que deseja pagar e optar por débito ou crédito. O estabelecimento e o comprador são avisados via internet e celular, respectivamente, de que o pagamento foi efetuado. “O comerciante pode até imprimir um comprovante como aquele que o usuário recebe ao pagar com cartão”, explica Medeiros.

A proposta não elimina a mediação das operadoras de cartão de crédito. O consumidor continua dependendo dos serviços de crédito, mas pode dispensar o cartão de plástico. Segundo Medeiros, continuam a valer as mesmas regras do mercado para os cartões, mas com a possibilidade de se efetuarem transações seguras via celular, sem custo adicional para o cliente e com menos gasto para os estabelecimentos. Para o usuário interessado em fugir das operadoras de crédito, uma alternativa seria o uso de um cartão pré-pago de celular, do qual se poderia debitar o valor do produto adquirido. O problema, nesse tipo de transação, é que a tributação das operadoras de telefonia sobre o estabelecimento pode chegar a cerca de 50%. Uma opção inviável para o marcado brasileiro, na opinião de Medeiros.

Além de propor a aplicação fácil de tecnologia para o desenvolvimento de um sistema de pagamento via celular que se encaixe no sistema comercial brasileiro, o projeto WapCash prevê ainda diferentes planos para os estabelecimentos comerciais, devendo a taxa de operação variar segundo o número de transações. “Ainda não temos os custos de operação definidos, mas certamente serão menores que os gastos com operadoras de cartão.”

O grupo da Unisul tem o apoio das empresas SunTech (área de telefonia celular), Nexxera (área de negócios para a internet) e TechBay (área de soluções em tecnologia da informação). Uma versão piloto do projeto foi liberada para essas empresas, que deverão testá-la com clientes selecionados. “O objetivo dessa versão é ouvir críticas e sugestões de usuários”, diz Medeiros. Em breve o grupo apresentará resultados com relação a custos e viabilidade do projeto.

Tecnologia conhecida
A base do projeto WapCash é uma tecnologia desenvolvida na segunda metade da década de 1990 pelas empresas Ericsson, Motorola, Nokia e Unwired Planet. O sistema WAP foi concebido para ser um protocolo de acesso à internet por meio de aplicativos portáteis, como o celular. “A vantagem do WAP é que o usuário do celular não precisa instalar programas no aparelho; ele acessa a internet como se estivesse diante de um computador”, conta Medeiros. Isso porque o mininavegador do celular é idêntico aos navegadores de internet, embora adaptado para equipamentos com menor capacidade de armazenamento e processamento de dados.

O mininavegador do celular permite que o usuário acesse a página do serviço WapCash, que pode ser escrita em WML (linguagem de programação WAP) ou XHTML (versão mais avançada de HTML, linguagem de formatação mais usada para documentos publicados na internet). Quando o endereço é acessado, o celular se comunica, via rádio, com uma antena da operadora de telefonia para que haja troca de informação entre o aparelho e o serviço WapCash. 

Jaqueline Bartzen
Especial para a CH On-line / PR
04/09/2007