Participação brasileira inédita

 

Pela primeira vez, uma equipe brasileira marca presença na competição internacional de biologia sintética promovida pelo Instituto de Tecnologia de Massachussetts, nos Estados Unidos. O campeonato, realizado anualmente desde 2003, tem como meta a criação de dispositivos biológicos simples que solucionem de forma criativa problemas nas áreas ambiental, industrial ou biomédica.

O Brasil será representado por um time composto por dois professores e 16 alunos de graduação e pós-graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O projeto do grupo é modificar geneticamente exemplares da bactéria Escherichia coli e do fungo Saccharomyces cerevisiae, usados em processos industriais como a produção de compostos farmacêuticos, insulina e etanol.

A intenção da equipe é que esses microrganismos geneticamente modificados evitem a contaminação dos processos por outros micróbios. Esse problema pode levar à perda de 5 a 10% da produção e gerar um prejuízo da ordem de milhões de Reais, especialmente na fabricação de etanol industrial, área estratégica para o país.

Até o momento, grande parte do esforço do grupo, orientado pela bióloga Johana Rincones e pelo engenheiro agronômo Gonçalo Amarante, estava concentrado em estudos teóricos sobre biologia sintética. “Agora estamos trabalhando na criação de um protótipo das bactérias e leveduras geneticamente modificadas para mostrar nas apresentações finais da competição, previstas para acontecer entre 30 de outubro e 2 de novembro deste ano”, conta Rincones.

As regras do jogo
Para participar da Competição Internacional de Mecanismos Geneticamente Projetados (iGEM, na sigla em inglês), os times inscritos recebem, no primeiro semestre do ano, um kit com partes de DNA. O material é escolhido pelos participantes em um banco de dados disponibilizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachussetts – e é a partir dele que os trabalhos devem ser desenvolvidos.

Este ano, o iGEM bateu recorde de equipes inscritas: são 112 times, que totalizam mais de 1.000 participantes. O evento é voltado principalmente para alunos de graduação. Entretanto, pós-graduandos podem participar como conselheiros. A organização da competição exige também que o time seja orientado por pelo menos dois professores.

As premiações são distribuídas em três categorias: grande prêmio, para o qual os juízes selecionam entre três e 10 times finalistas que concorrerão ao primeiro, segundo e terceiro lugares; prêmio especial, dividido em onze subcategorias, como “melhor apresentação” e “melhor pôster”; e prêmio por área, também dividido em subcategorias relacionadas a áreas específicas de conhecimento (saúde e medicina, alimentos e energia, meio ambiente etc).

Além disso, os grupos têm chance de ganhar medalhas de ouro, prata ou bronze, se atenderem a critérios predefinidos, como desenvolver novas partes biológicas, ajudar outro time participante do iGEM e criar uma página pessoal para a equipe no portal do evento. Cada medalha tem pré-requisitos específicos. Atender a essas exigências já é meio caminho andado, mas a decisão final cabe mesmo aos juízes.

Rincones acredita que a equipe, patrocinada por uma empresa agrícola e apoiada por várias indústrias de biotecnologia, pode faturar pelo menos uma medalha de ouro. “Montamos um projeto com todos os requisitos para isso”, assegura a pesquisadora. E completa: “Sem dúvida nossa participação já traz um ganho enorme para o país, com o treinamento dos estudantes nessa área de fronteira da biologia.”


Raquel Oliveira
Ciência Hoje On-line
03/09/2009