Ainda não há imagens disponíveis da formiga achada no interior de São Paulo, que será descrita pela equipe de pesquisadores. O desenho acima representa um inseto do mesmo gênero, a Megalomyrmex silvestrii (imagem: Museu de Zoologia da USP).
Um pequeno inseto capaz de invadir o ninho alheio, roubar alimento e competir espaço com os outros. Assim é a nova espécie de formiga encontrada por pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) no Parque das Neblinas, interior de São Paulo. Pertencente ao gênero Megalomyrmex , o inseto, que ainda não foi descrito ou batizado, é uma prova de que a mata atlântica guarda espécies desconhecidas pelos biólogos, apesar de todos os estudos já realizados ali.
A descoberta aconteceu durante um trabalho de campo realizado em maio de 2005, na região do rio Itatinga, próxima à cidade de São Paulo. Segundo a coordenadora da pesquisa, a bióloga Maria Santina Morini, o intuito do trabalho era identificar as espécies de formigas que vivem no subsolo da mata atlântica. “Ainda se conhece muito pouco sobre as espécies habitantes desse segmento da mata”, diz ela. “A maior parte dos estudos em áreas de floresta é realizada com formigas da superfície dos solos.”
A equipe escavou cerca de 45 cm de profundidade e encontrou 32 espécies de formigas. Uma delas chamou atenção dos biólogos pela coloração preta, diferente das outras do mesmo gênero. “As outras espécies apresentam uma cor mais amarelada, próxima do dourado”, explica Morini. Os pesquisadores não encontraram o ninho da nova formiga e, portanto, não podem tirar muitas conclusões sobre seu comportamento. “Mas sabemos que as outras espécies desse gênero são muito competitivas e chegam a invadir os ninhos dos outros insetos, comendo seus alimentos e até os ovos e larvas”, conta a bióloga.
Segundo a bióloga, o gênero Megalomyrmex é típico de matas tropicais, como é o caso do Parque das Neblinas. “O que nos surpreendeu é o fato de descobrir novas espécies em regiões onde a ação humana já destruiu boa parte da biodiversidade”, ressalta Morini. “Isso demonstra que ainda existem remanescentes de mata atlântica ricos em fauna e flora próximos aos grandes centros urbanos, que precisam ser estudados para se traçar diretrizes apropriadas a fim de conservá-los, já que a urbanização é inevitável.”
Morini procurou um especialista no gênero Megalomyrmex – o taxonomista Carlos Brandão, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) – para ratificar a descoberta. A nova espécie está depositada no Museu, sob os cuidados de Brandão, e deve ser formalmente descrita em um artigo a ser submetido a um periódico científico. Com a confirmação, o inseto deve se juntar às cerca de 12 mil espécies de formigas já descritas no mundo, sendo 3.200 só na região neotropical.
Mário Cesar Filho
Ciência Hoje On-line
17/02/2006