Polímero do futuro

Polímeros e medicina. A associação, embora ainda pouco conhecida pelo grande público, já mostrou grande potencial nos laboratórios: válvulas cardíacas, implantes odontológicos, regeneração de nervos. As possibilidades são muitas e pesquisas recentes tratam de aumentar o leque de benefícios e reduzir os riscos do uso cirúrgico de materiais tão maleáveis como os polímeros sintéticos.

Os resultados muitas vezes são surpreendentes. É o caso da pesquisa desenvolvida pela química industrial Vanusca Dalosto Jahno no Laboratório de Organometálicos e Resinas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), durante a realização de seu doutorado. O estudo apontou para o uso do polímero poliuretano-caprolactona na regeneração de células nervosas e ósseas.

Em virtude de seu caráter biodegradável, o implante feito com esse polímero é gradualmente absorvido pelo organismo

Em virtude de seu caráter biodegradável, o implante feito com esse polímero é gradualmente absorvido pelo organismo. O tempo de degradação ainda está em análise, mas já se sabe que o processo se dá em um período de no mínimo seis meses. No caso de regeneração óssea, o tecido aos poucos assume o lugar do implante, que tem formato semelhante ao do osso original.

O processo para regenerar células nervosas é semelhante. “Quando o nervo apresenta um defeito”, explica a química, “coloca-se um tubo do polímero para conectar suas extremidades. Assim, as células recebem uma orientação para onde devem crescer. O polímero vai se degradando conforme o tecido nervoso é regenerado”.

Biomaterial

O poliuretano-caprolactona foi escolhido entre diversos polímeros pelo fato de apresentar bons resultados em testes feitos com ratos, além de ter boa maleabilidade. Outra aplicação possível da substância é como auxiliar na regeneração de tecido cutâneo e em implantes odontológicos. Contudo, por ser relativamente flexível, não é indicado para uso em implantes e próteses que recebem alto impacto, como as feitas para quadril, coluna vertebral e joelhos. “Existem outros biomateriais para essa finalidade”, ressalta Jahno.

Outra aplicação possível da substância é como auxiliar na regeneração de tecido cutâneo e em implantes odontológicos

Os testes com o material vão continuar até que se conheçam com precisão os eventuais riscos de seu uso para a saúde. Até o momento, porém, o poliuretano-caprolactona se mostra promissor, assim como outros polímeros biodegradáveis. E diversas áreas do conhecimento, como a química, a biologia, a medicina e as engenharias, estão tratando de descobrir todo o potencial desses materiais.

O grande potencial do novo biopolímero atraiu o interesse de empresa brasileira AS Technology, sediada em São José dos Campos (SP). A empresa, que investe na pesquisa de Jahno, já depositou um pedido de patente, juntamente com a PUCRS, no escritório do Instituto Nacional de Proteção Industrial.

 

Guilherme de Souza
Especial para a CH On-line / PR