A poluição aumenta o risco de doenças cardiovasculares, aponta a tese de doutorado do pneumologista Ubiratan de Paula Santos, defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A pesquisa verificou que indivíduos expostos a altos índices de poluição apresentam aumento da pressão arterial e do número de mediadores químicos inflamatórios na corrente sangüínea, menor variabilidade da freqüência cardíaca - que provoca um maior risco de arritmia e morte súbita - e uma alta incidência de inflamação brônquica, acompanhada de declínio acentuado da função pulmonar. O estudo foi feito em controladores de tráfego que trabalham em vias de grande movimento da cidade de São Paulo.
A Marginal Tietê é uma das vias de grande movimento da cidade de SP em que trabalham os controladores de tráfego examinados no estudo
A poluição atinge vários tecidos e órgãos do corpo humano e estimula a produção dos mediadores químicos. No sistema nervoso autônomo simpático, os poluentes aumentam a produção de adrenalina, o que eleva a pressão arterial e diminui a variabilidade na freqüência cardíaca. No fígado, por exemplo, são liberados a proteína C reativa (PCR) e o fibrinogênio - substâncias que agem na coagulação sangüínea mas que, em excesso, aumentam o risco de doenças coronarianas.
O presente estudo difere de pesquisas anteriores sobre a relação entre poluição e risco de doenças cardiovasculares e pulmonares por ser o primeiro a envolver indivíduos adultos (entre 31 e 55 anos), saudáveis e não fumantes ou ex-fumantes há mais de um ano. Os 50 controladores de tráfego — chamados de “marronzinhos” por causa de seus uniformes - que participaram do estudo trabalham nas marginais Pinheiros, Tietê e Bandeirantes. Eles foram submetidos a exames nos meses de agosto de 2000 e 2001 e fevereiro de 2001. Os efeitos negativos da poluição, porém, não se restringem a esse grupo: “não há uma barreira entre essas avenidas e a cidade, e a poluição é formada por gases e partículas muito finas e leves que se dispersam facilmente”, afirma Ubiratan.
A composição básica do ar é: nitrogênio, oxigênio e pequenas frações de dióxido de carbono, ozônio e gases nobres. Já no ar poluído há outras substâncias, como monóxido de carbono (associado à isquemia do miocárdio), dióxido de enxofre (irritação do trato respiratório), material particulado (principal poluente ligado a efeitos respiratórios e cardiovasculares) etc.
No final dos anos 1990, as mortes devido a doenças cardiovasculares representavam cerca de 30% do total e superavam aquelas provocadas por causas externas e neoplasias. No entanto, apenas nos últimos 20 anos os efeitos da poluição passaram a ser considerados problema de saúde pública. Mesmo assim, a maioria dos estudos referentes a doenças cardiovasculares não cita a poluição do ar como fator de risco.
“A poluição ambiental afeta todos os cidadãos. Seu controle depende de ações públicas e coletivas e medidas de controle, mais eficazes que as campanhas educativas e culturais para modificar comportamentos individuais como dieta, sedentarismo ou tabagismo — embora essas campanhas também sejam necessárias.”
Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
30/04/03