Uma pomada aprimorada por médicos brasileiros promete reduzir a necessidade de cirurgia de fimose em cerca de 90% dos casos. A droga foi criada no Canadá e já é usada em vários outros países. No Brasil, uma equipe do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp) tornou o produto mais eficaz por meio da adição de enzimas.
A pomada Postec, patenteada pela Apsen Farmacêutica,
promete evitar a cirurgia de fimose em até 90% dos casos
A fimose é uma anomalia da pele que cobre o pênis (prepúcio) e impede a exposição da glande (cabeça do orgão). Com o tempo, ela pode causar irritação, infecções urinárias e, em adolescentes e adultos, problemas nas relações sexuais. Em casos extremos, a fimose pode favorecer o aparecimento do câncer no pênis, que acontece principalmente pela falta de higiene. A moléstia requer muitas vezes tratamento cirúrgico de ressecção parcial do prepúcio seguida de sutura circular.
O princípio ativo da pomada que pode evitar a cirurgia é a betametasona, um derivado da cortisona. A substância age como anti-inflamatório, e dissolve as traves fibrosas ricas em proteínas que ligam a pele do prepúcio ao pênis. Na Unicamp, os pesquisadores acrescentaram à betametasona enzimas chamadas hialuronidases, capazes de quebrar as proteínas das traves fibrosas. A ação dessas enzimas facilita a liberação do prepúcio.
Segundo Paulo Palma, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, o uso da pomada é indicado para meninos que completam um ano de idade e que não têm a liberação espontânea do prepúcio, ou em casos de infecções de repetição dessa pele (postite). “Em breve, é possível que, no nosso meio, a cirurgia só seja indicada na falha do tratamento clínico, oferecido como primeira opção”, explica.
A nova pomada foi patenteada pela Apsen Farmacêutica, após um investimento de R$ 2 milhões e dois anos de estudos, no qual o medicamento foi testado em cem pacientes, com êxito em 90% dos casos. A pomada chegou ao mercado em junho de 2003, com o nome de Postec. Na maioria dos casos, dois tubos de 10 gramas do composto são suficientes para o tratamento completo (cada tubo custa R$ 26,33).
“Certamente o Postec revolucionará a medicina pediátrica , no que se refere ao tratamento de fimose, mudando totalmente o paradigma da cura no Brasil”, avalia Paulo Palma, que coordenou o desenvolvimento do medicamento ao lado de Miriam Dambros.
Pedro Lent
Ciência Hoje/RJ
30/06/00
atualizado em
21/07/03