Ponte para pesquisas

Há 10 anos, pesquisadores do estado de São Paulo chegaram à conclusão de que os estudos que vinham fazendo na área ambiental poderiam gerar resultados muito mais expressivos se motivassem ações concretas no setor público.

Pesquisadores associados já estudaram 12 mil espécies e catalogaram 1.800 novas descobertas

Desejosos de inspirar políticas de conservação mais eficientes, eles criaram o Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, ou Biota, ligado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A palavra biota designa o conjunto de todos os seres vivos de uma região. 

A iniciativa será expandida para vários estados do Brasil neste ano e acaba de ganhar visibilidade com a publicação, nesta semana, de um artigo que apresenta os principais resultados obtidos pelo projeto na revista Science.

O programa engloba cerca de 90 projetos de pesquisa. Somando os esforços individuais, os pesquisadores associados ao grupo já estudaram 12 mil espécies, identificaram mais de 1.800 novas espécies, e produziram mapas e um livro que indicam áreas de relevante interesse para conservação da biodiversidade, e que devem ser recuperadas no estado de São Paulo.

Veja aqui imagens de algumas das espécies e biomas estudados por pesquisadores do Biota

 

Além disso, já gerou mais de 750 artigos em periódicos científicos e formou mais de 170 mestres e 110 doutores com trabalhos associados à conservação da biodiversidade.

Mapa das áreas prioritárias para recuperação em São Paulo
O mapa acima, gerado no projeto Biota, indica (em vermelho) as áreas que devem ser priorizadas pelas iniciativas de recuperação da vegetação nativa. Mapas como esse podem auxiliar o trabalho de gestores ambientais (imagem: projeto Biota-Fapesp).

Todos os estudos são submetidos a uma avaliação por pares. Seus dados são relacionados a outras pesquisas semelhantes e consolidados para oferecer resultados mais abrangentes. Depois, são passados para uma linguagem mais clara e acessível para alcançar o público geral e, sobretudo, os gestores ambientais.

O Biota integra, principalmente, estudos nas áreas de biologia e ecologia. Carlos Joly, coordenador do grupo, conta que a secretaria municipal do meio ambiente e o governo do estado de São Paulo já utilizaram vários relatórios fornecidos pelo programa na elaboração de leis e projetos de conservação ambiental.

São estudos como o do próprio Joly, que analisa a mata atlântica desde o nível do mar até dois mil metros de altitude. Outra pesquisa observa borboletas e seu papel na biodiversidade do bioma. “Juntos, esses dados fornecem informações sobre as transformações que a mata na região sofre em função das mudanças climáticas”, explica o biólogo.

Mata atlântica na serra do Mar
Paisagem da mata atlântica na serra do Mar, no norte do estado de São Paulo (foto: projeto Biota-Fapesp).

Crescimento futuro

“União entre acadêmicos e gestores facilita de forma significativa os esforços de preservação ambiental”

Segundo Jean Paul Metzger, um dos autores do artigo da Science, o Biota está ganhando mais visibilidade internacional. Graças à atual comemoração do ano da biodiversidade, parcerias com universidades e órgãos fora do país devem ser firmadas ainda em 2010. 

“Há o reconhecimento de que essa união entre acadêmicos e gestores facilita de forma significativa os esforços de preservação ambiental”, diz ele.

Carlos Joly afirma que programas similares já existem em estados como Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso do Sul. Até o fim do ano, será lançada uma versão nacional.

Cobra venenosa de uma floresta em São Paulo
Esse espécime de cobra venenosa do gênero ‘Bothrops, foi encontrado num fragmento de floresta no estado de São Paulo (foto: projeto Biota-Fapesp).

Para o biólogo, ainda faltam alguns passos para que o projeto tenha maior ligação com a sociedade. Um deles é discutir mais o problema ambiental entre os jovens. Há propostas de lançar material didático para o ensino fundamental e médio.

“Além disso, pretendemos reunir dados de mais áreas da ciência e promover parcerias com outros países, aumentando a visibilidade do programa”, ressalta Joly.

Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line