Por conta própria

O que as plantas têm a ver com os cristais? É possível catalogar espécies com códigos de barras genéticos? Os fungos fazem sexo? Existem tipos diferentes de memória? Temas tão diversos quanto estes estão sendo estudados no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG) e foram reunidos em uma iniciativa de divulgação no rádio, disponível também na internet.

A realização das pesquisadoras do ICB Adlane Vilas Boas e Débora d’Ávila merece destaque, pois ultrapassa uma prioridade comum entre os cientistas brasileiros – buscar excelência e publicar suas pesquisas em periódicos voltados apenas para especialistas. Conscientes da importância de mostrar à sociedade o que é feito dentro dos laboratórios, as duas coordenam por conta própria o programa de rádio Na onda da vida . Apesar de diversos obstáculos, elas conseguiram, sem financiamento, dar continuidade e aperfeiçoamento à idéia.

Equipe responsável pelo projeto Na onda da vida .

O projeto é realizado junto com alunos voluntários do ICB e do curso de Comunicação. Vai ao ar duas vezes por dia na rádio UFMG Educativa (FM 104,5, em Belo Horizonte) e já tem 58 programas arquivados em formato de áudio e texto no site www.icb.ufmg.br/naondadavida , aberto a qualquer um com acesso à internet. “É importante ter esse material que sirva como porta de entrada para o que é feito dentro do ICB”, explica Adlane, em entrevista à CH On-line .

Os textos veiculados na rádio são escritos pelos alunos, a partir de entrevistas com os pesquisadores, ou pelos próprios cientistas. A idéia é adaptar o conteúdo de maneira a explicar, de forma bem simples, os temas das pesquisas realizadas no instituto e questões relacionadas a elas – como curiosidades sobre o comportamento das abelhas, o que é a leishmaniose ou a doença de Chagas. “Barato e simples, o rádio é um ótimo meio de comunicação, que deve ser mais explorado”, defende Adlane.

Um dos diferenciais do programa, segundo a coordenadora, é divulgar também os trabalhos com pouca visibilidade na mídia. Na seleção das pautas a serem tratadas, Adlane escolhe alguns pesquisadores do ICB de forma aleatória, para procurar saber o que eles têm pesquisado, o que permite mostrar à sociedade a importância da pesquisa básica e pode até ajudar a garantir a continuidade de algumas delas.

Depois de um ano e meio, o projeto cresceu e conseguiu uma bolsa da Pró-Reitoria de Extensão para Horácio Antônio Rodrigues, aluno de ciências biológicas e locutor de muitos textos. “Muitas vezes, iniciativas como essas não duram por falta de recursos”, afirma Adlane.

As coordenadoras ainda pretendem remodelar o site para torná-lo mais interativo e realizar trabalhos em colaboração com escolas da região. “Esperamos conseguir financiamento para formar um núcleo de popularização da ciência”, explica Adlane. “E, quem sabe um dia, contribuir para a criação de um curso de especialização em divulgação científica onde os alunos tenham uma formação multidisciplinar.”

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
24/05/2006