Trazer à vida bactérias pré-históricas, gigantescos dinossauros, animais e ambientes extintos há milhares de anos não é apenas tarefa da ciência. É também da arte, ou – o termo mais adequado – da paleoarte, atividade a meio caminho entre a paleontologia e as artes plásticas.
Ilustrações, esculturas, animações virtuais e até robôs que dão vida a fósseis – tudo criado por profissionais que podem ter tanto formação artística quanto científica. Um passado longínquo retratado com a estética de hoje. É este o cenário do 2º Congresso Internacional de Arte Paleontológica, no Museu Nacional do Rio de Janeiro, local da exposição. No mesmo lugar também acontece a exibição “Dinos in Rio”, que possui uma versão virtual em 3D.
Na paleoarte, o que acaba chamando mais atenção são os clássicos dinossauros, com imagem congelada no imaginário popular em função dos diversos filmes e livros de ficção científica. Mas se engana quem pensa que esses animais pré-históricos são retratados pelos paleoartistas do mesmo modo que são vistos nas telas de cinema. Todo o trabalho da paleoarte é baseado em dados científicos.
Escultura do Santanaraptor placidus, dinossauro carnívoro de grande porte que viveu há 110 milhões de anos na Chapada do Araripe, no Ceará. A obra foi feita pelo paleoartista Maurílio Oliveira. Clique na imagem para ter mais informações sobre essa espécie. (foto: Sofia Moutinho)
“É preciso equilibrar arte e ciência”, diz Maurílio Oliveira, paleoartista do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) há sete anos e um dos pioneiros da área no Brasil. “É preciso ser correto cientificamente, além de ter talento artístico. Senão não adianta.”
A paleoarte é uma área em constante aperfeiçoamento. Conforme se descobrem novos fósseis as ilustrações e réplicas são refeitas. “A ciência muda e a paleoarte vai acompanhando”, diz Oliveira. “A gente costuma dizer que as nossas primeiras peças são de doer e outras vão ficando melhores, pois vamos acrescentando mais informações e nos aproximando da realidade.”
Criatividade e conhecimento científico
Maurílio Oliveira e suas ilustrações: o paleoartista brasileiro foi premiado no Congresso Internacional de Ilustração de Dinossauros em 2005. (foto: Sofia Moutinho)
É comum paleontólogos, artistas plásticos e até engenheiros trabalharem lado a lado para levar ao público uma visão fiel dos animais pré-históricos. O desafio começa nas escavações, onde são encontrados os fósseis. Depois, paleontólogos e artistas montam um quebra-cabeça para reconstruir os animais. No entanto, nem sempre eles dispõem de todas as peças – e é aí que entra o talento dos paleoartistas.
Por exemplo: ninguém sabe ao certo qual era a cor de um dinossauro, os fósseis não dão qualquer pista nesse sentido. A escolha depende da criatividade do artista. Mas, como tudo na paleolarte, as decisões respeitam os limites da ciência. “Se o animal habitava um deserto, por exemplo, não devia ser muito colorido”, explica Oliveira. “Ele devia ter tons mais pastéis para se confundir com aquele meio.”
Muitas vezes não são encontrados todos os ossos do animal escavado. Em situações como essa, artista e paleontólogo comparam o fóssil com alguma espécie semelhante.
O Laboratório de Animatrônica e Controle Dinâmico da Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina, usou o processo na réplica animada do pterossauro Tapejara imperator (da exposição Dinos in Rio), já que durante as escavações só foi encontrado o crânio desse réptil voador.
Para estimar o tamanho e a envergadura da asa do animal, a equipe formada por químicos, engenheiros, paleontólogos e artistas utilizou como referência fósseis de uma espécie análoga, a Sinopterus dongi.
A animatrônica entra em campo
O uso desse tipo de tecnologia é cada vez mais frequente e a robótica – ou animatrônica – vem ganhando espaço na paleoarte. A técnica possibilita a reprodução dos movimentos de animais pré-históricos.
“A animatrônica tem um papel fundamental na conservação e preservação do patrimônio paleontológico da América Latina”, diz Hugo Nicolás Pailos, engenheiro eletrônico e diretor do projeto do pterossauro Tapejara. “Ainda é uma boa forma de se aproximar das crianças, pois um objeto que simula ter vida é mais interessante do que um osso.”
Ilustração do Prestosuchus por Maurílio Oliveira. Esse animal quadrúpede de até 6 metros de comprimento estava entre os maiores predadores do Triássico. Clique na imagem para ter mais informações sobre essa espécie.
Segundo o paleoartista Maurílio Oliveira, a atividade é recente no Brasil. Tem como marco inaugural a exposição “No tempo dos dinossauros“, realizada em 1999 no Museu Nacional. Até então as ilustrações e esculturas de dinossauros eram exclusivamente feitas por estrangeiros. Mas hoje o cenário é outro e os paleoartistas brasileiros são reconhecidos no mundo todo.
“O Brasil certamente já está no mesmo patamar dos grandes centros da paleoarte, como os Estados Unidos, onde a atividade existe há muitas décadas”, afirma Oliveira.
2a Exposição Internacional de Arte Paleontológica – Dinos in Rio 2009
Local: Salão da Baleia do Museu Nacional / UFRJ
Quinta da Boa Vista – São Cristóvão – Rio de Janeiro
De 25 a 30 de agosto, das 10 às 16h.
Entrada: R$ 3,00 (grátis para crianças até 5 anos e pessoas
acima de 60; crianças entre 6 e 10 anos pagam R$ 1,00).
Tel.: (21) 2562-6900
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line
27/08/2009