A rede invisível que sustenta a vida

Por que as agroflorestas, sistemas onde convivem árvores nativas e culturas de alimentos, são menos afeitas a pragas? Por que a volta de uma espécie extinta ao seu hábitat natural pode transformar todo o ambiente positivamente? Como centenas ou até milhares de espécies coexistem em um local com recursos limitados? Essas fascinantes questões sobre a natureza são explicadas pelo fato de as espécies estarem profundamente interligadas umas às outras e ao ambiente por meios indiretos, pouco visíveis e muito importantes. Essas conexões formam uma malha surpreendente que une os componentes dos ecossistemas, permite seu funcionamento orgânico e a regulação precisa de seus processos, aumentando sua estabilidade. Conhecer esses mecanismos tem inúmeras aplicações ainda pouco exploradas.

Crédito: Agrofloresta/Foto:Pedro Aché

Foi em 1866 que o biólogo e naturalista alemão Ernest Haeckel (1834-1919) cunhou a palavra ecologia para dar nome ao estudo das relações entre seres vivos e ambiente. O ambiente aqui significa muito mais do que o meio em que se vive, mas também as interações com outros organismos que convivem no mesmo sistema natural. Com a evolução das pesquisas nessa área, ampliou-se bastante o conhecimento sobre as relações entre grupos de animais e plantas. Sempre houve, no entanto, um foco maior nas relações ‘visíveis’ entre as espécies. Grande parte dessas interações diretas entre os organismos são as chamadas tróficas, relacionadas aos hábitos alimentares.

Há até pouco tempo, as relações indiretas, ou seja, interações mediadas por uma terceira espécie ou pelo ambiente, eram, em grande parte, negligenciadas ou ignoradas em estudos ecológicos. Pesquisas mais recentes, contudo, têm repetidamente demonstrado a importância dessas relações indiretas para a estruturação e o funcionamento dos ecossistemas.

Helena Nunes de Oliveira Negrão, Rafael Arruda Costa, G. Wilson Fernandes e Milton Barbosa

Departamento de Genética, Ecologia e Evolução,
Universidade Federal de Minas Gerais