Animais podem sobreviver sem oxigênio?

Pesquisa brasileira mostra como quase 100 espécies animais têm capacidade de adaptação a condições extremas da natureza, tolerando até mesmo ambientes com pouco ou nenhum oxigênio. É a ‘teoria do preparo para o estresse pós-oxidativo’.

Uma pesquisa, muitas vezes, começa a partir da curiosidade pessoal de um cientista ou de uma grande pergunta. A que orienta este artigo começou a ser formulada nos anos 1990: como certos animais se adaptam a incríveis condições do ambiente, como o frio congelante, baixíssima oxigenação, seca ambiental severa, elevadas temperaturas etc.?

São muitos os exemplos dessa resiliência: nos desertos norte-americanos, há espécies de sapos que se enterram por até dois anos, baixam o metabolismo e esperam a volta das chuvas. Fazem um tipo especial de hibernação: a estivação. Ocorre o mesmo na caatinga brasileira, onde algumas espécies de sapos que habitam leitos de rios temporários se enterram, nos meses sem chuva, quando os rios secam, a até dois metros de profundidade, à procura de solo úmido.

E os casos conhecidos de adaptações não param aí: nas regiões temperadas da América do Norte, muitos rios e lagos congelam. Mas o gelo fica na superfície. Quando cobre toda a extensão do corpo d’água, há um bloqueio da troca gasosa entre a atmosfera e a água. Com o passar das semanas, os organismos que ali estão consomem e escasseiam o oxigênio, criando assim um ambiente de hipóxia (com pouco ou nenhum oxigênio). Em combinação com a baixa temperatura desses locais, diversas espécies de répteis e anfíbios hibernam no fundo desses rios e lagos, em uma hibernação anaeróbia (sem oxigênio). É uma hipóxia natural e periódica.

Marcelo Hermes-Lima

Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade de Brasília