Éramos apenas três

Na coluna deste mês, recordações da literatura que deixa boas lembranças mesmo quando não se compreende por completo uma obra

Sob protestos de vários alunos, seu Gentil, nosso professor de português, disse que teríamos um mês para concluir a leitura de mais um livro. Havíamos acabado de ler Os meninos da Rua Paulo, e ele já vinha com outro. O final do ano se aproximava e tínhamos de dar conta de Éramos Seis, novela narrada a partir das memórias de dona Lola, personagem que afirmava ter feito das tripas coração para criar seus quatro filhos na cidade de São Paulo, na década de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial.

Em menos de uma semana, eu não só conhecia o drama de dona Lola, como ainda torcia para que seu filho Alfredo voltasse para casa e Carlos não morresse no campo de batalha.

Por tratar-se de uma narrativa sobre um cotidiano que eu desejava, minha identificação com a trama foi imediata. Queria ser Isabel, a filha de dona Lola, sobretudo porque achava muito bonito pertencer a uma família grande, que se reunia em volta de uma mesa para fazer as refeições – coisa impossível em uma meia-água pequena, que meu pai nunca conseguiu acabar de construir, e que sequer tinha mesa de jantar. Lá éramos apenas três: eu, meu pai e minha mãe.