Gertrude e os antivirais

Recusada em uma entrevista de emprego por ser uma “influência distrativa” para os homens, Gertrude Elion desenvolveu o aciclovir e outros fármacos e, em 1988, recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina.

Credito: Foto Gertrude B. Elion Foundation

Vírus são agentes infecciosos sem capacidade de se multiplicarem por si só. Em outras palavras, se uma partícula de vírus cai em uma superfície, mesmo que seja rica em nutrientes, ela permanece ali sem criar novas partículas virais até que expire. O vírus até possui a informação necessária para gerar novas cópias, algo comparável a um manual de como criar mais vírus está impresso em seu material genético – que pode ser DNA ou RNA. Mas a pré-condição para a multiplicação viral é ter acesso a uma célula viva e usar todos os equipamentos dessa célula para criar suas cópias. Uma analogia simples é pensar nas células como uma fábrica de moléculas orgânicas sequestrada por um vírus. Essa peculiaridade dos vírus é um enorme obstáculo para o desenvolvimento de drogas efetivas no tratamento de infecções virais. Afinal, como criar uma droga para combater um agente infeccioso, que usa as nossas próprias células, sem que essa droga afete as células sequestradas e também as células saudáveis na vizinhança? Para que medicamentos antivirais mais seguros e efetivos fossem desenvolvidos, foi necessária uma abordagem mais racional e efetiva. Um dos maiores expoentes nessa batalha contra os vírus foi a química estadunidense Gertrude Elion (1918-1999).

Leandro Lobo ([email protected])
Instituto de Microbiologia Paulo de Góes
Universidade Federal do Rio de Janeiro