A matemática é comumente vista como a ‘ciência dos números’. Segundo essa visão, o conhecimento dessa disciplina está associado a um ‘conhecimento sobre números’ ou a uma ‘habilidade de fazer contas’. Não raro, filmes e séries retratam personagens como ‘gênios da matemática’ capazes de resolver rapidamente contas ‘difíceis’ ou ‘complicadas’.
Sem dúvida, o conceito de número é central e estruturante para a matemática contemporânea. Não por acaso, o conceito de número, apresentado em diferentes conjuntos numéricos, atravessa todas as etapas da matemática da educação básica, do ensino fundamental até o médio.
Mas essa visão não só reduz a matemática a uma dimensão operacional e tecnicista, como também superficializa o próprio conceito matemático de número, escondendo ou obscurecendo as diferentes ideias conceituais subjacentes a ele. Mais: pode dar a ideia de ‘números’ como conceitos naturalizados, objetos evidentes, incontroversos e inquestionáveis, que existem a priori em relação à própria matemática.
Contrariamente a essa ideia, diferentes povos e culturas, ao longo da história, desenvolveram, como formas de dar sentido ao mundo e à natureza, diferentes práticas de contagem, quantificação, comparação e medida, que não necessariamente correspondem às estruturas por meio das quais os números são concebidos hoje.
Victor Giraldo
Instituto de Matemática,
Universidade Federal do Rio de Janeiro