Origem do ser humano em quadrinhos

Primeiro volume da adaptação de best-seller sobre a história da humanidade explora recursos visuais que facilitam a compreensão de conceitos, mas traz visão questionável sobre causas biológicas e evolutivas para acontecimentos históricos mais recentes.

A primeira parte da adaptação para os quadrinhos do livro Sapiens: uma breve história da humanidade, do historiador israelense Yuval Noah Harari, é um trabalho interessante de diálogo entre a linguagem gráfica e o famoso best-seller, que ganhou leitores no mundo inteiro desde 2011. Nesse primeiro volume, analisam-se os milênios iniciais da existência humana na Terra, com destaque para teorias evolutivas e interações com a biologia, a arqueologia, a antropologia e, também, com uma certa ‘psicologia evolutiva’.

A obra se debruça em uma investigação que cria paralelos entre as especificidades do processo evolutivo dos Homo sapiens e acontecimentos posteriores, como a formação de culturas e sociedades humanas e o surgimento de guerras, de revoluções e até de uma alegada tendência contemporânea à obesidade.

A narrativa principal é representada por meio de diálogos entre a personagem de Harari e professores de diversos lugares do mundo e é entremeada por narrativas paralelas – como a das aventuras de ‘Bill, o pré-histórico’ –, e por recursos que o gênero dos quadrinhos permite, como diálogos com hipotéticos neandertais ou uma intricada investigação através do tempo para verificar a responsabilidade dos H. sapiens sobre as extinções em massa ocorridas ao longo de milênios.

Sapiens (edição em quadrinhos): O nascimento da humanidade
Yuval Noah Harari, David Vandermeulen e Daniel Casanave. Tradução: Érico Assis
Quadrinhos na Cia, 2020, vol.1, 248 p.

Os recursos visuais são explorados de maneira bem-sucedida pelo trio que encabeçou a transformação do livro em história em quadrinhos, proporcionando ao leitor viagens no espaço e no tempo que facilitam a visualização da argumentação de Harari em torno de temas que podem ser de difícil entendimento para o público não especialista. Por meio de metáforas e da lógica sequencial, conceitos que levariam páginas para serem explicados em texto ganham rapidamente uma dimensão visual. Assim, o mérito do best-seller de conseguir articular, em uma narrativa acessível, os encontros interdisciplinares entre ciências tão distantes quanto a biologia e a antropologia é mantido e até aprofundado nessa adaptação.

Raissa Brescia dos Reis
Instituto de História,
Universidade Federal do Rio de Janeiro