Praticamente um ano após o início do espalhamento do SARS-CoV-2, o novo coronavírus, o mundo permanece lutando, física e mentalmente, contra a pandemia. O isolamento social – já feito em outras pandemias – foi a principal medida adotada mundialmente e, também, a que demonstrou ser mais eficaz na redução do número de casos e da mortalidade. No entanto, são evidentes os danos colaterais relacionados ao confinamento, à falta de contato humano e à exposição a notícias negativas da pandemia, que, por sua vez, promove um crescente estado de angústia e ansiedade. Tudo isso é permeado pelo medo pré-existente de ser infectado ou, ainda, da perda de entes queridos. Além disso, há a profunda e preocupante reflexão sobre o que nos aguarda no período pós-pandemia e quais as sequelas remanescentes, que podem incluir o estresse constante.
Uma forma de amenizar ou aliviar esses efeitos do isolamento social não está acessível a muita gente: a natureza, em suas mais diversas formas, como áreas de lazer, praias e Unidades de Conservação Ambiental.
A proximidade com a natureza tem um impacto positivo na saúde humana física e mental, como mostra a neurociência. A exposição a áreas verdes, ao ar limpo, a ambientes abertos, ao sol e a temperaturas menos abafadas contribui para a percepção dos mais variados estímulos sensoriais, como visual, auditivo e olfativo. Essa capacidade de receber informações sobre diferentes partes do corpo modula positivamente muitos aspectos fisiológicos, psicológicos e comportamentais que permeiam a atividade do sistema nervoso.
O contato com a natureza também assume um papel fundamental sobre o desenvolvimento cognitivo. Essa relação já foi apontada em estudo que demonstrou, ao longo de 12 meses, que a exposição de alunos do ensino básico a espaços verdes promoveu melhora da capacidade de memória e redução da desatenção. Além disso, o acesso restrito à interação com a natureza em idades pré-escolares, fase em que o cérebro ainda está em formação, pode resultar em aumento irrestrito da exposição a telas. Esse tipo de exposição, segundo estudo recente, reduz o desenvolvimento da substância branca cerebral dessas crianças, que é importante para habilidades cognitivas como a linguagem e a alfabetização.
Luana da Silva Chagas
Núcleo de Pesquisa, Ensino, Divulgação e Extensão em Neurociências,
Universidade Federal Fluminense
Priscila Stéfani Monteiro-Alves
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro