Ciência Hoje: A pandemia de covid-19 reforçou a desigualdade entre os estudantes em relação ao acesso à internet. Existem dados sobre isso? Quais as consequências desse ensino remoto improvisado?
Bruna Werneck: As consequências são dramáticas. Existem várias pesquisas monitorando isso, mas o grau de confiabilidade dos dados varia porque, muitas vezes, as secretarias indicam, por exemplo, que 80% dos alunos têm acesso à plataforma, mas isso significa que eles acessaram ao menos uma vez, não é garantia de acesso regular, não quer dizer que eles tenham celular próprio, computador, banda larga ou dados para acompanhar todo o conteúdo que se espera durante um mês. A desigualdade é dramática. Nas escolas particulares, houve pressão para se adaptar logo, mas, por mais que eu tenha muitas críticas às abordagens pedagógicas oferecidas por elas no ensino remoto, ao menos acesso à internet o aluno da rede privada tem, e a maioria dos alunos das escolas públicas, não. É uma perda de mais de uma década, porque o Brasil conseguiu, nos últimos anos, atingir a universalização de matrículas para crianças no ensino fundamental, e isso está se perdendo porque os alunos não estão frequentando essa escola virtual que se colocou.
Valquíria Daher
Jornalista
Instituto Ciência Hoje