O final do século 19 assistiu a um significativo fluxo de migrantes vindos da Europa em direção ao Brasil. A livre circulação dessa mão de obra, em substituição ao trabalho dos escravizados, defrontou-se com um conjunto de variáveis endógenas: a alta mortalidade causada pela epidemia da febre amarela colocava em risco o projeto migratório nacional.
Na década de 1880, a cidade do Rio de Janeiro destacava-se como o principal ponto de conexão e distribuição dos migrantes europeus na América do Sul. Em maio de 1883, no auge da epidemia, foi fundada a Hospedaria Ilha das Flores, na entrada da baía que dá acesso à cidade – onde hoje se localiza o município de São Gonçalo. A edificação se justificou, em parte, como método de isolamento preventivo para os migrantes europeus recém-chegados e para mantê-los espacialmente distanciados dos moradores e frequentadores das áreas centrais da cidade, especificamente, dos cortiços. Só para contextualizar, em 1893, a estalagem carioca ‘Cabeça de porco’, no centro da cidade, foi destruída com a justificativa de zelar pela higiene urbana, como conta Sidney Challoub no livro Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial (Companhia das Letras, 1996).
Gislene Santos
Núcleo Interdisciplinar dos Estudos Migratórios,
Programa de Pós-Graduação em Geografia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro