Para subtrair privilégios e multiplicar inclusão

Carolina Araujo, do Impa, recebeu em 2020 o Prêmio Ramanujan, honraria internacional concedida a pesquisadores em matemática com idade inferior a 45 anos. Sua trajetória a fez atentar para a sub-representação feminina nas ciências exatas.

Minha avó materna, Margarida, era professora. Meu bisavô exigiu que seus filhos homens seguissem a medicina, enquanto suas filhas mulheres deveriam ser professoras. E assim foi, apesar da insistência frustrada de uma de suas filhas, que sonhava em ser engenheira. Criada em meio a professoras, minha mãe desenvolveu desde cedo o gosto pelos estudos. Mas driblou o magistério, formou-se em engenharia e foi, para mim, modelo de inteligência e talento matemático.

De minha avó paterna, aprendi outros saberes. Descendente de colonos imigrantes da Alemanha, Elza criou sozinha os sete filhos. Teve muitas ocupações, inclusive a de vendedora de enciclopédias – as quais meu pai, também engenheiro, comprava aos montes para apoiá-la. Nossa casa era repleta de enciclopédias. Eu as devorava, especialmente uma enciclopédia de ciência e tecnologia voltada ao público juvenil, que vinha acompanhada de um minilaboratório.

Aos 17 anos, eu pretendia ser engenheira. Em 1994 ingressei na PUC-Rio com bolsa integral pelo excelente desempenho no vestibular. Nos primeiros semestres na universidade, explorei disciplinas das várias engenharias, física, química e matemática. Logo entendi que a minha vocação era a matemática. Ingressei em um projeto de iniciação científica sob orientação do professor Ricardo Sá Earp, que marcou profundamente a minha formação como geômetra. Tive a oportunidade de fazer um ano de intercâmbio na Universidade da Califórnia, em Berkeley.


Trabalhei durante seis meses como estagiária em um banco de investimentos. A experiência confirmou que meu lugar era mesmo a academia

A minha bolsa de estudos na PUC-Rio garantiria isenção das taxas escolares, mas eu ainda precisaria de recursos para cobrir os meus gastos com moradia e alimentação. Minha família me apoiou financeiramente como pôde, e eu adquiri dívidas para juntar o montante necessário. Foi um ano de muitos estímulos e muitas descobertas. Por influência de Sá Earp, dei continuidade ao meu projeto de iniciação científica sob orientação de um professor em Berkeley. No âmbito pessoal, conheci pessoas de todas as partes do mundo, das mais diversas culturas.

Carolina Araujo

Instituto de Matemática Pura e Aplicada