Um Nobel para aliviar as dores do mundo

Como nosso corpo percebe um toque, o calor, o frio, a dor? No século 17, filósofo, físico e matemático francês René Descartes imaginava que fios conectavam diferentes partes da pele ao cérebro. Cerca de 400 anos depois, em 2021, o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina vai para as mãos de dois pesquisadores que descobriram como o calor, o frio, o toque e a pressão chegam ao sistema nervoso central. As pesquisas ajudaram a desvendar mecanismos da dor e apontam para o desenvolvimento de analgésicos mais eficientes e seguros.

O médico norte-americano David Julius e seu colega libanês Ardem Patapoutian foram os vencedores do prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2021, por suas descobertas sobre os receptores de temperatura e de pressão presentes no corpo humano, o que contribuiu para a compreensão de como nosso sistema nervoso percebe o calor, o frio e os estímulos mecânicos. Em 2020, a dupla de pesquisadores também dividiu o prêmio Kavli de Neurociências (da Fundação Kavli, em associação com a Academia de Ciências da Noruega e o Ministério da Educação norueguês). Mas, afinal, qual a importância dessa pesquisa em um cenário no qual todas as atenções estão voltadas para a crise sanitária gerada pela pandemia de covid-19? 

Com esses estudos fundamentais para a descoberta dos mecanismos moleculares que nos permitem sentir calor, frio, inflamação e sensações físicas relacionadas, novos caminhos foram abertos para o desenvolvimento de analgésicos direcionados e seguros para combater a dor, evitando dependência e outros efeitos colaterais dos opioides. 


COM ESSES ESTUDOS FUNDAMENTAIS, NOVOS CAMINHOS FORAM ABERTOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE ANALGÉSICOS DIRECIONADOS E SEGUROS PARA COMBATER A DOR, EVITANDO DEPENDÊNCIA E OUTROS EFEITOS COLATERAIS DOS OPIOIDES

Bianca de Araújo Wagner

Hospital da Boca,
Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e
Colaboradora da Unidade de Pesquisa Clínica em Neurologia e Neurociências (NeuroUPC),
Faculdade de Medicina,
Universidade Federal Fluminense