Projetado para destruir tumores

O câncer ganhou um novo inimigo: um composto químico capaz de reduzir e até eliminar diversos tipos de tumores malignos, como pulmonares, sangüíneos, ósseos e mamários. Com sua eficácia comprovada em animais, o composto em breve será testado em pacientes e já é considerado uma esperança para um tratamento menos tóxico e traumático da doença.

Os resultados positivos do novo composto – chamado pelos pesquisadores de PF12 – contra o crescimento desenfreado das células do corpo foram apresentados em um seminário promovido pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) em outubro. A descoberta é fruto de pesquisas realizadas ao longo de quase 12 anos pelo químico Antonio Carlos Fávero Caires na Universidade de Mogi das Cruzes. A partir deste ano, o estudo recebeu o apoio de outras instituições, como o Inca, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Testes in vitro mostraram que o composto tem alta eficiência. “Em estudos com células da leucemia mielóide crônica, registramos 100% de morte celular em 48 horas“, conta Caires. Exames realizados em ratos e camundongos com vários outros tipos de câncer confirmaram os bons resultados. Mas o pesquisador alerta que a eficiência da droga pode variar em função do tipo de célula afetada pelo tumor.

Caires conta que o PF12 foi projetado para inibir a ação de uma enzima chamada Catepsina B, responsável pelo crescimento e pela metástase dos tumores. “Além disso, o composto consegue romper lisossomos da célula tumoral”, afirma. “Essas organelas contêm enzimas capazes de induzir a morte celular, em um processo denominado apoptose”, explica. Desse modo, o composto não só impede que o câncer avance, mas também elimina as células cancerosas.

Menor toxicidade
De acordo com o pesquisador, o novo composto é menos tóxico que outras substâncias anticancerígenas usadas atualmente, como a cisplatina. “A vantagem do PF12 é que ele atua em enzimas específicas, enquanto a cisplatina age sobre moléculas de DNA, causando um dano muito maior ao organismo”, compara. No Inca e na Fiocruz, os pesquisadores constataram que o novo composto não afetou órgãos como os rins e o fígado dos animais.

No entanto, serão necessárias ainda mais pesquisas e testes em pacientes para estimar os níveis de toxicidade do PF12 em seres humanos. “Caso o novo composto seja licenciado, tanto a cisplatina quanto o PF12 serão drogas importantes para uso em quimioterapia”, acrescenta.

Outra vantagem do novo composto é o fato de ter sido desenvolvido no Brasil. Mesmo com o alto custo da produção do PF12, Caires garante que as pesquisas brasileiras baratearão o preço dos medicamentos para o tratamento de tumores.

Os pesquisadores pretendem agora avaliar como o organismo humano irá responder à droga e determinar quais são as doses seguras para o início de testes em pacientes. “No futuro, o emprego do PF12 na quimioterapia vai dar nova esperança a pacientes com câncer”, avalia.

Juliana Marques

Ciência Hoje On-line
28/11/2008