Há exatos 10 anos, a sonda Opportunity pousou em Marte com o intuito de encontrar vestígios de água ou gelo no planeta vermelho. Estudo publicado hoje na revista Science traz novidades sobre como a sonda identificou o mais antigo registro de um ambiente aquoso em solo marciano.
Tudo começou quando a Órbita de Reconhecimento de Marte (MRO, na sigla em inglês), sonda enviada pela Nasa (agência espacial norte-americana) para explorar a superfície do planeta, detectou, na borda de uma cratera, a presença de argila rica em ferro. Batizada de Endeavour, tal cratera, com 22 quilômetros de diâmetro, é fruto do impacto de um asteroide ou cometa que teria atingido Marte há cerca de 3,7 bilhões de anos.
A sonda Opportunity foi então enviada à borda da Endeavour e, durante 200 sóis (nome dado ao dia solar marciano), investigou a formação Matijevic, grupo de rochas sedimentares que data de antes do surgimento da cratera. “Identificamos a presença de argila rica em ferro nessas rochas e, como esses minerais só se formam na presença de água, acreditamos que o ambiente teria sido aquoso e, consequentemente, habitável há bilhões de anos”, explica John Grotzinger, geólogo do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, e coautor do estudo.
O pesquisador explica que o ferro presente na argila provém do basalto, rocha que se transforma em mineral argiloso por conta da erosão provocada por água corrente. “Curiosamente, outras rochas localizadas próximas à formação de Matijevic apresentaram argila rica em alumínio e com pouco ferro”, pondera. “Nossa interpretação é que uma grande quantidade de água fluiu sobre essas rochas e carregou a maior parte do ferro solúvel ali presente, sendo mais um indício da presença de água no local.”
De acordo com o estudo, as rochas ricas em ferro revelam um ambiente aquoso pouco ácido, sendo favorável à proliferação de microrganismos. “Durante os primeiros oito anos em Marte, a Opportunity havia registrado rochas ricas em sulfato, que caracterizam um ambiente aquoso muito ácido e inabitável”, diz Grotzinger.
Diversidade de ambientes
Além de complementar outros indícios de que o planeta vermelho pôde ter sido habitável, a pesquisa destaca as diferenças do ambiente aquoso antes e depois da formação da cratera Endeavour. Diferentemente de rochas formadas após o impacto, que, quando analisadas, mostraram ter sido banhadas por águas ácidas, as rochas da formação Matijevic revelam que ali existiu um ambiente aquoso propício à vida.
“Essa não é apenas mais uma descoberta de evidência de água em Marte, mas sim um retorno a um ambiente aquoso mais neutro e favorável à vida”, explica o coautor Raymond Arvidson, geólogo da Universidade de Saint Louis, nos Estados Unidos.
Segundo Grotzinger, os achados da Opportunity indicam uma diversidade de ambientes no planeta vermelho. “Alguns eram favoráveis à vida, outros não. Entender esses ambientes, como mudaram e suas capacidades de preservar evidências sobre a vida será importante para guiar futuras pesquisas no planeta”, completa.
Mariana Rocha
Ciência Hoje On-line