Proteção comprovada

 

As reservas ambientais na Amazônia realmente protegem a floresta contra queimadas? O estudo de um grupo de cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, confirma que sim, mesmo quando essas reservas são cortadas por estradas. Estudos anteriores haviam sugerido que essas vias são as maiores indutoras de desmatamento e incêndios na floresta.

Para rastrear os focos de incêndio na Amazônia brasileira, o trio norte-americano analisou as informações referentes ao período de 1996 a 2006 fornecidas por três sistemas de sensoriamento remoto por satélite. Os pesquisadores também dividiram os estados que compõem o território amazônico entre áreas de baixo e de alto impacto humano e separaram as reservas entre parques de proteção total, áreas de uso limitado e reservas indígenas.

“Nosso estudo comprovou que cerca de 90% das queimadas detectadas na Amazônia estavam a menos de 10 km de estradas”, conta à CH On-line a bióloga Marion Adeney, autora principal do artigo publicado esta semana  na revista PLoS One. “No entanto, percebemos que há uma incidência muito maior de incêndios perto de estradas fora de reservas do que em seu interior.”

Como os cientistas esperavam, a maior quantidade de focos de incêndios (88%) foi encontrada nos estados de alto impacto humano (Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Maranhão), justamente pelo fato de possuírem mais estradas. “Essa informação mostra que, mesmo que as reservas tenham menos focos de incêndios que áreas não protegidas, sua maior efetividade depende da localização”, pondera Adeney.

Localização conta mais

Mapa dos focos de incêndio na Amazônia brasileira. Os pontos vermelhos são os focos detectados pelos satélites usados na pesquisa. As áreas verde-escuras (reservas) apresentam menos focos de incêndios de que as verde-claras. Ainda assim, é possível verificar que a região de alto impacto humano (abaixo da linha amarela) tem significativamente mais queimadas que a de baixo impacto, mesmo nas reservas ambientais (reprodução / PLoS One – clique no mapa para ampliá-lo).

A localização das reservas é mais relevante para a ocorrência de incêndios do que a categoria em que ela se enquadra. Em regiões mais remotas, há menos estradas e, portanto, reservas habitadas e inabitadas têm baixos índices de incêndios. Já em áreas de impacto humano mais alto, o número de estradas e de pessoas é maior, e tanto reservas habitadas quanto inabitadas mostraram uma incidência significativamente maior de incêndios.

“Enquanto reservas de proteção absoluta podem ser melhores para a preservação da biodiversidade, nosso estudo mostra que, para proteger a mata, reservas habitadas, como as extrativistas, também são eficientes”, afirma a bióloga.

O estudo também mostrou que, durante as secas provocadas pelo fenômeno climático El Niño, há muito menos focos de incêndio nas reservas em comparação com as áreas sem proteção.

O estudo de Adeney mostrou que, embora não tenham eficiência total, as reservas são uma ferramenta importante para atenuar os impactos do desenvolvimento na Amazônia. “As reservas criadas em março deste ano ao longo da BR-319 [que liga Porto Velho a Manaus], feitas para reduzir o impacto ambiental da pavimentação da estrada, por exemplo, são uma evidência de sua importância”, conclui a autora.


Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line
08/04/2009