Vírus da dengue observado ao microscópio eletrônico. A dengue é típica de regiões tropicais e já foi identificada em mais de 100 países da América Latina, África e Ásia. Em 2007, foram diagnosticados mais de 500 mil casos da doença em todo o país (foto: Wikimedia Commons).
Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) poderá render aos médicos uma nova ferramenta para acompanhar a evolução da dengue, doença que provocou dezenas de mortes este ano no Brasil. O grupo da UFRJ detectou proteínas que têm expressão diferenciada em células do fígado infectadas com a doença.
Os resultados, apresentados durante a 23ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizada de 20 a 23 de agosto em Águas de Lindóia (SP), permitirão ainda um melhor entendimento dos mecanismos da dengue.
Segundo a pesquisadora que conduziu o estudo – a bioquímica Russolina Zingali, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ –, o fígado é um importante órgão envolvido na evolução da dengue. O estudo das proteínas expressas pelos genes de suas células (proteômica) pode ajudar a entender melhor seu papel nessa doença. Uma abordagem parecida, usada por um outro grupo de pesquisa e também apresentada na reunião da Fesbe, permitiu um melhor entendimento de uma forma de leucemia.
Os pesquisadores analisaram células de hepatoma humano (tumor maligno de fígado) infectadas com o vírus da dengue, pois não existe modelo animal em que a doença se desenvolva de forma semelhante à dos humanos. “Identificamos, por meio da técnica de espectrometria de massa, 119 proteínas, sendo 25 exclusivas das células infectadas”, revela Zingali. Agora o grupo trabalha na identificação de seus peptídeos.
Estresse oxidativo
A análise mostrou o aumento das enzimas relacionadas ao estresse oxidativo nas células com dengue. A presença de uma citosina (fibra orgânica presente no citoplasma) chamada MIF, envolvida em doenças inflamatórias e auto-imunes, também estava aumentada. Além disso, foram encontradas nessas células a proteína Timp-2 e proteínas que ajudam no enovelamento da proteína viral.
O estudo também detectou, nas células infectadas, a diminuição da expressão da molécula DENV2. “Essa poderia ser a porta de entrada do vírus da dengue”, propõe Zingali. A hipótese será investigada futuramente pelos pesquisadores. O grupo pretende ainda correlacionar seus resultados com os de outra equipe, que estuda as proteínas expressas em soros extraídos de pacientes com dengue, para encontrar marcadores para a doença.
Thaís Fernandes (*)
Ciência Hoje On-line
01/09/2008
(*) A jornalista viajou a Águas de Lindóia a convite da Fesbe.