Quanto planeta!

Desde que se descobriu o primeiro planeta orbitando uma estrela fora do nosso sistema solar, há mais de 20 anos, o número de exoplanetas encontrados subiu exponencialmente e hoje ultrapassa a marca de 700. Apesar da incrível quantidade de detecções, astrônomos não sabiam dizer se esses astros eram a regra ou a exceção no espaço. Agora, uma pesquisa que por seis anos rastreou o céu em busca de exoplanetas conclui que eles não só são abundantes, como também estão em maior número que as estrelas na Via Láctea.

Na caça por esses planetas, astrônomos de diversos países usaram dados coletados por dois projetos colaborativos, o Planet (sigla de Probing Lensing Anomalies NETwork) e o Ogle (sigla de Optical Gravitational Lensing Experiment), que reúnem várias instituições de pesquisa, como o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), no Chile.

Para analisar os dados celestes, os astrônomos lançaram mão de uma técnica pouco usada na procura por exoplanetas chamada microlente gravitacional. Ao contrário do que pode sugerir o nome, o método não se refere ao equipamento usado, mas ao efeito que a luz de uma estrela distante sofre quando um exoplaneta e sua respectiva estrela passam na sua frente, na perspectiva de um observador terrestre.

Quando o planeta cobre a estrela de fundo, o seu campo gravitacional funciona como uma lente de aumento: desvia os feixes de luz e amplia o brilho da estrela. Assim é possível detectar os exoplanetas mais distantes.

No entanto, esse fenômeno é muito raro e depende da imprevisível conjuntura em que se alinham os dois astros e o observador na Terra. Ainda assim, a equipe de astrônomos conseguiu encontrar três novos exoplanetas, uma super-Terra (planeta com três vezes a massa do nosso) e dois outros com massas semelhantes à de Netuno e à de Júpiter.

Entenda o efeito de microlente gravitacional

Pode parecer pouco, mas, segundo os pesquisadores, esse é um feito inacreditavelmente difícil. Tão difícil que o fato de terem sucedido nessas observações seria o suficiente para concluir que os exoplanetas devem ser muito comuns na galáxia.

“Temos duas alternativas: ou somos as pessoas mais sortudas do universo ou isso quer dizer que os exoplanetas são abundantes”, diz o principal autor do estudo, publicado na Nature desta semana, o astrofísico Daniel Kubas, da Universidade Pierre e Marie Curie, na França. “Usando o princípio da navalha de Occam, entre algo muito improvável e uma alternativa mais razoável, ficamos com a explicação mais provável!” 

Kubas: “Ou somos as pessoas mais sortudas do universo ou isso quer dizer que os exoplanetas são abundantes”

Por meio de complicados cálculos estatísticos que levaram em conta fatores como a distância e a velocidade dos exoplanetas já descobertos, os pesquisadores chegaram à conclusão de que cerca de 30% das estrelas da Via Láctea hospedam planetas e que, em média, para cada estrela da galáxia existe pelo menos um exoplaneta. 

“Fiquei positivamente surpreso”, diz Kubas. “Embora pessoalmente eu já estivesse convencido de que os planetas são a regra e não a exceção na Via Láctea, ser capaz de transformar essa convicção em conhecimento e realidade é uma experiência muito boa.”

Não somos os únicos

Os astrônomos também observaram que os planetas pequenos e leves, como a Terra, são maioria na nossa galáxia. Segundo cálculos do estudo, dois terços das estrelas abrigariam planetas pequenos; metade teria planetas de massa média, como Netuno; e apenas um sexto hospedaria planetas pesados, com massa semelhante à de Júpiter. A conta não fecha em 100% porque uma estrela pode hospedar mais de um planeta de tamanhos diferentes. 

Grande parte dos exoplanetas descobertos até hoje está próxima da Terra e tem tamanho igual ou maior que Júpiter. Mas os pesquisadores acreditam que isso não seja um retrato da realidade, mas consequência das técnicas mais usadas em sua busca.  

A descoberta de que os planetas pequenos são abundantes dá mais gás para a procura por uma ‘irmã da Terra’ no espaço

As formas mais comuns de se encontrar um exoplaneta são pela observação do efeito gravitacional que o astro exerce sobre sua estrela hospedeira ou pela detecção do brilho de estrelas não muito distantes, que diminui quando o planeta se põe a sua frente. Ambas as técnicas só servem para planetas que estão perto de sua estrela ou para aqueles que são pesados o suficiente para ter um campo gravitacional evidente.

A descoberta de que os planetas pequenos são abundantes dá mais gás para a procura por uma ‘irmã da Terra’ no espaço. “Essa é uma busca que atiça a nossa curiosidade”, diz Jubas. “Nossos resultados indicam que existe uma grande chance de que outros planetas como o nosso sejam comuns e possam ser encontrados em breve.”


Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line