A discussão em torno do uso de um só termo para definir todos os tipos de sintomas que se enquadram na definição de asma está em pauta no meio médico. A revista britânica The Lancet argumentou em editorial da edição de 24 de agosto que o termo ‘asma’ deveria ser abolido e que as diferentes apresentações clínicas (fenótipos) da doença deveriam ser subdivididas em enfermidades distintas. Segundo especialistas, isso facilitaria o diagnóstico e o tratamento.
Segundo a revista The Lancet, cerca de 300 milhões de pessoas sofrem com algum grau de manifestação asmática no mundo.
A doença é caracterizada por tosse, falta de ar e chiado no peito, mas esses sintomas podem aparecer devido a diversas causas. e o diagnóstico é complicado, pois ela apresenta características muito parecidas com outras doenças, como a alergia por exemplo.
Especialistas brasileiros entrevistados pela CH On-line acreditam que é necessário mudar, mas ponderam que ainda não há conhecimento suficiente para realizar uma modificação tão radical. “Entendemos que existem, ao invés de asma, asmas. Cada uma dessas formas é representada por doenças diferentes, e não por uma doença só”, confirma o pneumologista Neio Boechat, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “A asma pode ser provocada por exposição ao frio ou a alérgenos, entre outros. Há situações clínicas diferentes que provocam manifestações específicas, isso não é novidade.”
A asma pode aparecer de forma leve, moderada ou grave e pode se desenvolver no indivíduo desde a infância ou só após a idade adulta. Do ponto de vista interno, ela causa obstrução reversível das vias aéreas e hiper-reatividade (reação intensa a determinado estímulos) dos brônquios quando o asmático entra em contato com o agente causador das crises. “Considerar a asma um conjunto de diferentes doenças pode ajudar a desenvolver novas possibilidades diagnósticas, além de facilitar a identificação do melhor tratamento para determinado paciente”, diz o alergista Emanuel Sarinho, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ambiente e genética
A asma pode aparecer nas crianças e não se desenvolver na fase adulta, mas ainda não está claro para os especialistas quais seriam os fatores que levariam a seu desenvolvimento em algumas pessoas e ao desaparecimento dos sintomas em outras. O ambiente e os fatores genéticos podem influenciar esse resultado, mas não é sabido como eles agem e quais seriam as formas de evitar que a doença se desenvolva.
Na mesma edição do The Lancet , um artigo sugere uma divisão da asma em subtipos definidos em função das causas aparentes da doença e dos sintomas apresentados. “Concordo com a divisão proposta, mas acho que esse é o início de uma longa discussão, pois qualquer classificação vai apresentar problemas num primeiro olhar”, diz Neio Boechat.
Segundo o imunologista Marcelo Bozza, professor da UFRJ, o problema é que as causas do desenvolvimento da asma não são conhecidas totalmente. “Não está claro se os diferentes fenótipos têm as mesmas causas”, acrescenta. “No entanto, essa discussão marca uma tentativa de olhar o problema de forma minuciosa. Os fenótipos da doença se mesclam, por isso é difícil surgir uma proposta de divisão neste momento. Talvez no futuro, a partir de novos estudos, tenhamos informação suficiente para criar uma proposta dessa natureza.”
Ele vê com bons olhos a percepção de que a asma, apesar de definir um grupo de sintomas bem parecidos, pode apresentar sintomas e fisiopatologias (causas) diferentes. “Isso é um avanço no sentido tornar as pesquisas mais acuradas para descobrir se as causas do desenvolvimento da asma podem ser unidas numa só doença ou não”, afirma. Além disso, uma revisão do conceito de asma pode facilitar a busca de medicamentos se as diferenças forem consideradas, porque cada asmático responde de forma distinta aos fármacos adotados.
Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
26/08/2006