Homicídio, acidente de trânsito e suicídio. Juntos, esses três fatores são responsáveis por 62,8% das mortes dos jovens brasileiros. É o que revela estudo do Ministério da Justiça feito em colaboração com o Instituto Sangari.
A pesquisa, divulgada na última quinta-feira (24/02), faz um diagnóstico da violência no país com foco nos jovens de 15 a 24 anos. Baseado nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o estudo mostra que, apesar da queda de mortalidade na população em geral – de 633 em cada 100 mil habitantes em 1980 para 568 em 2004 –, a mortalidade juvenil aumentou – de 128 a cada 100 mil jovens em 1980 para 133 em 2008.
A maioria dessas mortes juvenis (73,6%) é causada por fatores externos, principalmente por homicídios, responsáveis por 39,7% dos óbitos juvenis em 2008, último ano analisado pelo estudo. Já entre a população adulta, 90,1% das mortes ocorrem por causas naturais.
Os resultados mostram que o Brasil é o sexto país do mundo em número de jovens assassinados, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Venezuela, Guatemala e Ilhas Virgens. De acordo com a pesquisa, há 50 anos, as doenças infecciosas eram a maior causa de morte entre os jovens brasileiros.
Segundo o pesquisador Eduardo Ribeiro, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), os motivos das mortes violentas variam conforme a região.
“Em zonas metropolitanas, a violência entre jovens está muito ligada ao tráfico de drogas; há um ciclo geracional de crianças órfãs que são captadas para a criminalidade”, explica. “Já em regiões de interior, os conflitos de terra envolvendo jovens ainda são uma realidade.”
Índices altos, porém estagnados
Todos os estados apresentaram taxas de homicídio acima do limite considerado aceitável, de dez por 100 mil habitantes. Em 2008, Alagoas foi o estado com mais casos de assassinatos juvenis, 125,3 por 100 mil habitantes. Já Roraima teve os menores números, 18,1 casos para cada 100 mil habitantes.
Apesar dos altos índices, o pesquisador responsável pelo estudo, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari, diz que, desde 2005, depois da campanha nacional de desarmamento, o país conseguiu estagnar as taxas de homicídio na população em geral.
“Conseguimos conter o crescimento dos assassinatos no Brasil como um todo, mas os números continuam altamente preocupantes e, por outro lado, a violência se espalha por locais que antes eram tranquilos”, avalia Waiselfisz. O Nordeste, por exemplo, presenciou um aumento de 113,1% dos assassinatos de 1998 a 2008.
Segundo o estudo, cada vez mais a violência deixa de ser um problema das grandes capitais e regiões metropolitanas e migra para o interior. De 1996 em diante, o índice de homicídios nas cidades sofreu queda de cerca de 20% e, em contrapartida, o interior dos estados presenciou um aumento de 38,5% nos assassinatos.
Trânsito e suicídio
Além das mortes por homicídios, também chamam a atenção as causadas por acidentes de trânsito, responsáveis por 19,3% dos óbitos juvenis. Entre 1998 e 2008, o crescimento da mortalidade entre os jovens por esse motivo foi maior do que entre a população em geral: 23,4% contra 7,7%.
“Em 1997, com o novo código de trânsito, houve uma queda nos índices de mortes no trânsito; em 2000, esses números voltaram a aumentar e, em 2008, o crescimento se firmou a passos largos”, aponta Waiselfisz.
O estudo também mostrou que, em alguns estados, morrem mais jovens no trânsito do que assassinados. É o caso de São Paulo, onde 26,7% das mortes juvenis que ocorreram em 2008 se deram em acidentes de trânsito, enquanto o percentual de assassinatos no mesmo ano foi de 24,4%.
Já a terceira causa de morte violenta analisada, o suicídio, representa 3,9% dos óbitos juvenis e teve seus maiores índices registrados no Sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul.
Um ponto surpreendente revelado pela pesquisa é que, ao contrário da tendência mundial, no Brasil a taxa de suicídios entre jovens é maior do que entre os adultos. Enquanto na população adulta ocorrem 4,9 suicídios para cada 100 mil habitantes, entre os jovens esse número é um pouco maior: 5,1 em 100 mil.
O estudo mostrou ainda um aumento expressivo do suicídio entre jovens indígenas. Em 2008, foram 20 suicídios a cada 100 mil índios, índice quatro vezes acima da média nacional. “Esses jovens ainda não ganharam o status de cidadãos perante o restante da população, se encontram em uma posição intermediária que leva a essa situação preocupante”, analisa o pesquisador.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line