Rapidez para detectar o rotavírus

Visualização do rotavírus por microscopia eletrônica. (Foto: F. P. Williams, U.S. EPA).

Três minutos. Esse será o tempo necessário para identificar em pacientes a presença do rotavírus, agente causador da doença diarréica aguda, que a cada ano mata cerca de 600 mil crianças com menos de cinco anos, principalmente nos países em desenvolvimento. Além de ser mais rápido do que os testes importados usados atualmente, o novo método de detecção, criado pelo farmacêutico industrial Waldemir de Castro Silveira na sua dissertação de mestrado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apresenta custo reduzido e maior precisão nos resultados.

O rotavírus é o principal causador da diarréia infantil, que, só no Brasil, gera 300 mil internações por ano. O tratamento da enfermidade consiste na reidratação do paciente e não existem antibióticos para eliminar o vírus.

Segundo Silveira, o resultado de uma das técnicas usadas em hospitais e postos de saúde para a detecção do rotavírus chega a demorar duas horas. “Isso é um problema, pois crianças podem morrer de desidratação decorrente da doença apenas seis horas após a manifestação dos sintomas, devido aos vômitos e à diarréia”, ressalta o pesquisador. “A rápida desidratação do paciente pede que a detecção do vírus seja mais rápida.”

O novo método desenvolvido na Fiocruz é baseado em um procedimento já existente no mercado para detectar o rotavírus: o teste imunoquímico de aglutinação em látex. Uma gota de amostra das fezes diarréicas do paciente é colocada sobre a superfície de uma lâmina, onde se pinga um reagente que possui anticorpos específicos para os antígenos do rotavírus. Se o resultado for positivo, a amostra, que inicialmente teria o aspecto homogêneo de um disco leitoso, transforma-se em grãos individualizados, devido à ação do anticorpo sobre o vírus.

Resultado do exame visto ao microscópio: à direita, a aparência da amostra se manteve como um disco leitoso, o que indica resposta negativa para a doença; à esquerda, a aglutinação aponta resposta positiva.

O trabalho de Silveira acrescenta qualidades ao método antigo. O pesquisador desenvolveu componentes que tornam o teste mais preciso e mais rápido. Enquanto os importados levam de cinco a quinze minutos para apontar o resultado, o nacional precisa de apenas três. Outra vantagem da substituição dos testes importados, muito caros, pelo método nacional é a redução do preço dos exames. “Por ter sido desenvolvido no Brasil, o produto custará dez vezes menos”, afirma.

A nova técnica tem ainda 100% de especificidade, ou seja, é bastante segura, o que acaba com a possibilidade de se oferecer um resultado falso ao paciente. “Outros agentes presentes na amostra podem interferir na detecção e gerar uma resposta positiva para uma pessoa que não tem a doença”, explica. “O meu produto só detecta rotavírus.” Além disso, ao contrário do que acontece atualmente, o novo método também é capaz de revelar a doença em amostras com concentrações muito baixas de rotavírus.

Mas a nova técnica não será usada imediatamente. Silveira conta que o produto só será industrializado depois da liberação de seu uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que deve acontecer em abril de 2007. “Acredito que ele chegue aos hospitais no segundo semestre deste ano”, prevê. O projeto contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

Mariana Benjamin
Ciência Hoje On-line
08/02/2007