Rastreados pelo celular

 

Além de todas as suas funções já conhecidas, os telefones celulares também podem servir como verdadeiros aparelhos de rastreamento. Para definir os padrões de circulação humana no espaço geográfico, cientistas norte-americanos monitoraram cem mil telefones. O estudo mostra que a maior parte das pessoas tende a se locomover entre os mesmos lugares regularmente, ainda que, em alguns momentos, ocorram alterações em suas rotinas.

“De acordo com dados obtidos em países europeus, concluímos que aproximadamente 55% de nossa amostra percorrem diariamente menos de cinco quilômetros por dia, 7% circulam mais de 50 quilômetros e menos de 1% viaja 500 quilômetros ou mais”, conta à CH On-line a pesquisadora Marta González, da Universidade do Nordeste, nos Estados Unidos. “Mas essas distâncias não devem ser generalizadas; elas variam de acordo com o espaço estudado”, alerta.

A pesquisa, publicada esta semana na Nature, verificou que a maneira como os humanos se movimentam pelo espaço difere da dos demais animais. Devido ao seu caráter heterogêneo, a população humana não segue um comportamento coletivo, ao contrário de outros animais de uma mesma espécie, que têm necessidades iguais para sua sobrevivência. Além disso, entre os humanos, nota-se uma alta ocorrência de visitas aos mesmos lugares em um tempo curto, enquanto entre os demais animais esse comportamento não é tão freqüente.

Segundo González, a circulação dos animais pelo espaço é orientada, sobretudo, pela busca por alimentos. Uma vez escassa a fonte de alimentação, eles migram para outros lugares. “Em relação aos humanos, fatores como a rotina profissional e familiar prevalecem”, esclarece a pesquisadora.

Monitoramento mais eficiente

A imagem mostra a trajetória de um indivíduo (em laranja) realçada sobre as de milhares de usuários de celular. A maior parte das pessoas tende a se locomover entre os mesmos lugares regularmente, ainda que, às vezes, haja alterações em suas rotinas (imagem: Cesar Hidalgo e Marta González).

A equipe decidiu usar os telefones celulares para orientar o estudo porque eles já fazem parte da rotina de milhões de pessoas em todo o planeta. González diz que, inicialmente, a idéia era monitorar a movimentação das contas bancárias, mas esses dados não eram muito precisos.

“O rastreamento dos telefonemas foi mais eficiente”, diz a pesquisadora. “Ao contrário das contas bancárias, que podem pertencer a mais de um indivíduo, os aparelhos só são carregados por uma pessoa durante todo o seu dia, oferecendo a captação mais precisa de sua trajetória diária”, justifica.

Para identificar os padrões de mobilidade individual, a equipe coletou, durante seis meses, dados do rastreamento de cem mil aparelhos de celular selecionados aleatoriamente. “No momento em que um desses usuários fazia ou recebia uma ligação ou mensagem de texto, a torre de transmissão mais próxima imediatamente registrava a hora e o local em que se encontrava o indivíduo”, explica González. “Como cada torre cobre, em média, uma área de 3 km², foi possível determinar uma rotina de horários e locais”, completa.

Para ter certeza de que os padrões irregulares de ligações não afetariam os resultados, os pesquisadores monitoraram, por meio do sinal do aparelho celular, a localização de 206 usuários a cada duas horas durante uma semana. As torres de transmissão registraram o deslocamento de todos os usuários de uma área de cobertura para outra. De modo geral, a movimentação de cada pessoa seguiu um comportamento regular.

Com base nos resultados, os pesquisadores desenvolveram equações capazes de prever a mobilidade de uma população. “De posse dessas equações, poderemos mapear com maior precisão os movimentos populacionais pelo espaço e, assim, auxiliar os governos em questões ligadas ao planejamento urbano e de tráfego, principalmente das grandes cidades, bem como no monitoramento e controle de doenças contagiosas”, destaca González.

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
04/06/2008