O diagnóstico e tratamento de vários tipos de câncer em crianças requer a coleta da medula óssea, procedimento médico de precisão que, se mal executado, pode provocar dor intensa. A prática da técnica em pacientes vivos é motivo de grande apreensão para estudantes de medicina e profissionais recém-formados.
Pesquisador testa o equipamento desenvolvido na USP, o primeiro simulador para treinamento pediátrico que utiliza a realidade virtual
Para minimizar esse transtorno, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) recorreram à realidade virtual e criaram um sistema que simula a prática do procedimento e dispensa a presença de pacientes em carne e osso. O sistema é resultado de um projeto desenvolvido por uma parceria entre a Escola Politécnica e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O simulador de transplante de medula óssea, como foi chamado, reconstitui as etapas realizadas pelo médico na coleta da medula. Agora, os aprendizes poderão treiná-la em computadores pessoais, equipados apenas com um software, um dispositivo para visualização em três dimensões e um outro que simula as sensações tácteis do procedimento.
O contato do usuário com o ambiente de realidade virtual é feito pela manipulação do chamado dispositivo háptico — uma espécie de braço articulado que permite a entrada e saída de dados. Ele é representado na tela pela imagem de uma agulha usada na coleta da medula e de um dedo, que ‘explora’ o local correto a ser puncionado.
O dispositivo háptico é um braço mecânico que transmite
ao computador as ações do usuário e retorna para ele a
sensação táctil correspondente ao movimento simulado
Enquanto manipula o dispositivo háptico, o usuário visualiza, em três dimensões, a região da bacia, local onde se coleta a medula em crianças. O dispositivo permite também que o treinamento seja acompanhado a partir do interior do organismo, o que era impensável antes da aplicação da realidade virtual.
“A coleta de medula óssea é um procedimento feito às cegas, que necessita de uma certa prática. O médico erra muito no começo”, diz o oncologista pediátrico André Nebel de Mello, que realizou os primeiros testes no simulador. O equipamento foi pensado inicialmente para uso pediátrico. “A coleta de medula, muitas vezes dolorosa, é mais complicada em crianças, já que a superfície onde é feita é muito menor em relação àquela dos adultos”, esclarece o médico.
Ainda em testes, o simulador conta com tecnologia importada (dispositivo háptico) o que encarece bastante o produto. “Para a realidade brasileira o equipamento ainda é caro”, considera Liliane. “Mas acredito que em um curto espaço de tempo ele esteja disponível para médicos e estudantes.”
Fábia Andérez
Ciência Hoje On-line
20/08/03