Recursos pesqueiros podem se esgotar em 40 anos

 

Ecossistemas com grande biodiversidade, como o Mar Vermelho (acima), têm maior disponibilidade de recursos pesqueiros (foto: Amir Gur).

Os estoques de peixes e frutos do mar pescados para a alimentação humana podem entrar em colapso até 2048 se nada for feito para conter a perda da biodiversidade marinha, alerta uma equipe internacional de cientistas. Apesar da conclusão alarmante, publicada esta semana na Science , os pesquisadores ressaltam que ainda há tempo de reverter esse processo, com ações como a criação de reservas ambientais e o combate à poluição e à destruição dos hábitats marinhos.

A projeção da ameaça aos estoques de recursos pesqueiros foi feita pela equipe do ecólogo Boris Worm, da Universidade Dalhousie, em Halifax (Canadá). Os pesquisadores conduziram o mais abrangente estudo já feito para entender como a perda da biodiversidade marinha motivada pela ação humana afeta a produtividade dos ecossistemas oceânicos. Embora a conclusão não seja inesperada, esta é a primeira vez que foi possível estabelecer essa associação em escala local, regional e global.

Ao longo de quatro anos, a equipe reuniu dados de natureza variada para identificar o efeito da perda da biodiversidade sobre os ecossistemas marinhos nessas diferentes escalas. O grupo realizou experimentos, compilou registros históricos, analisou conclusões de estudos anteriores e reuniu dados sobre a evolução disponibilidade de recursos pesqueiros.

O panorama que emergiu do cruzamento desses dados permitiu mostrar como a perda da biodiversidade afeta diretamente a produtividade dos ecossistemas marinhos e os estoques de recursos pesqueiros. E a surpresa foi que a perda de espécies parece atuar de forma similar tanto em ecossistemas locais quanto na escala das bacias oceânicas.

Exploração insustentável
A ameaça aos estoques de recursos pesqueiros é provocada pela exploração desenfreada, pela poluição e pela destruição dos ecossistemas marinhos e pelas conseqüências indiretas das mudanças climáticas, que afetam a química dos oceanos. De acordo com o estudo, os estoques de 29% das espécies de peixes e frutos do mar pescados na alimentação humana já entraram em colapso – ou seja, já sofreram uma redução de mais de 90%.

A criação de reservas ambientais nos ecossistemas marinhos, como a área acima, na Papua Nova Guiné (Oceania), é apontada como uma das medidas fundamentais para se impedir o colapso dos recursos pesqueiros (foto: ARC COE/Coral Reef Studies/Marine Photobank).

 

E as projeções apontam que a totalidade dos estoques de recursos pesqueiros pode entrar em colapso até 2048. Mas a boa notícia é que ainda há tempo para se reverter essa tendência. “Estou otimista de que isso não vai acontecer e de que vamos convencer as pessoas a agir”, afirmou Boris Worm em entrevista coletiva à imprensa internacional realizada hoje. “Sabemos o que temos que fazer e podemos fazer isso, mas temos que agir logo.”

A principal estratégia apontada pelos autores para evitar o colapso anunciado é aumentar a cobertura das áreas oceânicas protegidas em reservas ambientais. O estudo avaliou a evolução da biodiversidade em áreas protegidas e verificou que, nessas reservas, os ecossistemas afetados são capazes de recuperar rapidamente sua produtividade e a diversidade de espécies. “Nos locais em que essa estratégia foi adotada houve benefícios econômicos imediatos”, acrescenta Worm. “Houve um aumento da ordem de cinco vezes do turismo nessas áreas, por exemplo.”

Mas os autores lembram que não basta criar novas reservas: é fundamental que se promova ainda a administração sustentável dos recursos pesqueiros e um controle rígido da poluição marinha. 

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
02/11/2006