O Brasil acaba de conquistar o domínio da produção de hidroxiapatita enriquecida com substâncias inorgânicas. Apesar do nome complicado, o material tem uma aplicação fácil de ser entendida: a produção de enxertos ósseos sintéticos.
A hidroxiapatita é formada por fosfato de cálcio cristalino e compõe entre 70% e 90% dos ossos humanos e dentes, assegurando rigidez e densidade a esses tecidos. É encontrada também na estrutura de sustentação de corais. Por isso, em países como a China, o composto extraído de corais mortos, após passar por tratamentos químicos, é usado em enxertos ósseos.
Agora, pesquisadores do Núcleo de Engenharia Biomecânica e Biomateriais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) conseguiram produzir hidroxiapatita em laboratório a partir de reações inorgânicas. Em um processo chamado dopagem, adicionaram estrôncio e magnésio ao material para torná-lo mais biocompatível.
O físico da UFSC José Rabelo, que estuda ossos sintéticos há 10 anos, explica que o composto obtido por sua equipe tem qualidade superior à da hidroxiapatita pura, como a extraída de corais. “A regeneração óssea ocorre de modo mais eficaz em comparação com o composto de origem natural”, explica.
Embora seja estudado há três décadas no Brasil, até agora o material sintético com essas características precisava ser importado de países como Japão e Estados Unidos, pioneiros na área de enxertos ósseos.
Testes in vivo
A principal função da hidroxiapatita produzida em laboratório é regenerar ossos lesionados. Ao ser inserido no corpo humano, o mineral demora no máximo dois anos para ser completamente absorvido e substituído por tecido ósseo natural.
Uma vez que o osso sintético é incorporado, não é necessário tomar medicamentos ou passar por tratamentos especiais. “A hidroxiapatita promove a regeneração do osso natural, tornando-o mais forte e denso na área onde foi implantada”, explica Rabelo.
Além de ajudar a recuperar ossos lesionados ou danificados, a hidroxiapatita é comumente usada no revestimento de próteses e parafusos usados em articulações e implantes dentários. A ‘cobertura’ impede que o corpo humano entre em contato diretamente com o material metálico e faz o organismo reconhecer a hidroxiapatita como elemento natural, evitando a rejeição do implante, melhorando sua adesão e prolongando sua vida útil.
O novo material já é produzido de acordo com as normas técnicas internacionais e com as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no que diz respeito ao limite máximo de magnésio e estrôncio adicionados. Até o início de 2013, terão início os testes com a substância em animais (in vivo).
A hidroxiapatita produzida na UFSC foi apresentada recentemente no Congresso Mundial de Biomateriais, realizado na China. Por enquanto o material dopado 100% nacional fica restrito aos laboratórios da universidade, mas a intenção do grupo é disponibilizá-lo em hospitais do Sistema Único de Saúde assim que sua eficiência for comprovada.
Mariana Ceccon
Especial para CH On-line/ PR