Jornada ao princípio de tudo

Boa notícia para os apaixonados por astronomia e apreciadores de textos saborosos de divulgação científica: foi lançado no Brasil o último livro do físico britânico Simon Singh. Suas obras anteriores – O último teorema de Fermat e O livro dos códigos – já haviam sido publicadas no país, pela mesma Record que agora lança Big Bang , em que Singh conta como foi elaborado o modelo que ele considera “a mais importante e gloriosa realização da ciência no século 20”.

A teoria segundo a qual o universo teve origem em uma grande explosão há cerca de 13,7 bilhões de anos é o foco do livro. Embora esse modelo tenha sido construído ao longo do século 20, Singh oferece ao leitor um panorama histórico muito mais amplo. Como não poderia deixar de ser, sua jornada começa na Grécia antiga e passa em revista os avanços feitos durante a Revolução Científica que ajudaram a estabelecer fundamentos da cosmologia – Copérnico, Kepler, Galileu e outras figurinhas carimbadas da história da ciência são personagens do livro.

O autor se atém com mais calma às contribuições feitas após a teoria da relatividade geral de 1915 de Albert Einstein (1879-1955) – ele próprio um opositor de primeira hora da teoria de um universo dinâmico. O físico alemão só acatou a idéia anos mais tarde, quando observações experimentais convincentes mostraram que o universo estava mesmo em expansão e que parecia ter tido início em uma singularidade na qual toda a matéria existente estava condensada em um único ponto.

Coube ao russo Alexander Friedman (1888-1925) e ao belga Georges-Henri Lemaître (1894-1966) propor uma solução teórica que permitisse descartar a estranha constante cosmológica introduzida por Einstein nas equações da relatividade geral para que o universo não entrasse em colapso gravitacional. Eles foram pioneiros ao sugerir que o universo teve uma origem pontual. Mas a teoria do Big Bang tal como é conhecida só ganhou forma quando o astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1953) constatou em 1929 que o universo estava em expansão, graças a uma técnica para medir a distância de estrelas desenvolvida pela americana Henrietta Leavitt (1868-1921).

Controvérsia e aceitação

“Mapa do universo” há 13,7 bilhões de anos elaborado a partir de dados colhidos pela sonda WMAP, que ajudaram a determinar quando as primeiras estrelas se formaram e forneceram novas evidências sobre eventos que teriam ocorrido no primeiro trilionésimo de segundo de vida do universo (imagem: Nasa / WMAP Science Team).

O modelo do Big Bang gerou muita polêmica entre os cosmólogos e só foi plenamente aceito a partir de meados dos anos 1960, quando foi confirmada a existência da radiação cósmica de fundo. A observação dessa radiação, gerada quando o universo tinha apenas 400 mil anos, jogou a pá de cal definitiva sobre a idéia de um universo estático. Desde então, novas observações – como as feitas pela missão WMAP, divulgadas no ano passado – têm refinado nossa compreensão sobre a singularidade que deu origem a tudo.

Big Bang restitui de forma fascinante a montagem desse quebra-cabeça. Simon Singh recorre à escrita fluida e descomplicada que o consagrou em seus livros anteriores. Os personagens dessa história ganham vida em sua narrativa fluida e palpitante, construída como se fosse um romance policial ou de aventura. Dezenas de fotos e diagramas e um resumo esquemático ao fim de cada capítulo ajudam os leitores que se perderem na explicação dos conceitos apresentados.

O livro não está isento de lacunas ou imperfeições, no entanto. Seu maior defeito talvez seja passar muito rapidamente pelas descobertas recentes que aprofundaram nosso conhecimento sobre a origem do universo – Singh pouco discute, por exemplo, o papel das misteriosas matéria e energia escura no modelo atual do cosmo. Nada que comprometa, porém, a prazerosa experiência de leitura que Big Bang deve oferecer a quem se dispuser a encarar suas 500 páginas. 

Big Bang
Simon Singh (trad.: Jorge Luiz Calife)
Rio de Janeiro, 2006, Record
Fone: (21) 2585-2000
499 páginas – R$ 63,00

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
01/02/2007