Restingas: conhecer para preservar

 

Extensas faixas de areia, lagoas, vegetação rasteira: assim se caracterizam as restingas, ecossistemas formados a partir das mais recentes modificações geológicas na costa brasileira. Apesar de serem muito comuns no litoral do país, sua beleza tem sido ameaçada pela ocupação desordenada do solo e pela poluição. A análise da degradação das restingas e um inventário inédito da fauna e flora desse ecossistema foram alguns dos resultados das expedições realizadas entre 1999 e 2000 por quatro biólogos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

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O estado de conservação da restinga de Grussaí (foto), no litoral norte
do RJ, foi avaliado como intermediário pelos pesquisadores da Uerj
(foto: Monique Van Sluys)

Monique Van Sluys, Carlos Frederico D. Rocha, Helena G. Bergallo, Maria Alice S. Alves e seus alunos percorreram 17 restingas do Rio de Janeiro ao sul da Bahia para catalogar e avaliar as condições de sobrevivência de animais e plantas de um dos ecossistemas mais ameaçados do Sudeste. Várias expedições somaram 5 meses de pesquisas em campo — tempo suficiente para encontrar espécies endêmicas (exclusivas de uma única região) e verificar atividades ilegais como corte de madeira, remoção de areia, construção de estradas, casas na beira do mar e muito lixo nas restingas.

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A pesquisa de mamíferos, anfíbios, répteis, aves e bromélias foi transformada em um inventário e ainda é material para teses e dissertações. A degradação das restingas foi um dos temas do livro Grandes remanescentes florestais do Estado do Rio de Janeiro e nas restingas da Mata Atlântica , lançado em junho pela editora RiMa. No livro, os biólogos sugerem medidas para minimizar o impacto ambiental nas restingas, como o aumento da fiscalização nos parques nacionais, estaduais e reservas ecológicas.

Para Monique Van Sluys, as maiores ameaças são a especulação imobiliária e a destruição do hábitat de muitas espécies, verificados em praticamente todas as restingas. “A situação é muito crítica em Massambaba, Maricá (ambas no RJ) e Prado (BA)”, afirma. Segundo ela, em meses a paisagem muda radicalmente e, se não houver vontade política, as restingas podem desaparecer em pouco tempo. Há poucas exceções que são exemplos de conservação: a restinga de Jurubatiba (RJ), protegida pelo parque nacional homônimo, e a da Praia do Sul, em Ilha Grande (RJ), que pertence a uma reserva biológica.

 

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Lagartixa da areia ( Liolaemus lutzae ), espécie endêmica de restingas do litoral do Rio de Janeiro e ameaçada de extinção (foto: Carlos Frederico D. Rocha)

Já existem projetos para a recuperação das restingas devastadas, como iniciativas da Fundação Parques e Jardins da Prefeitura do Rio, do Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé, e as Pesquisas Ecológicas de Longa Duração. Estas últimas, financiadas pelo CNPq, têm sido apontadas como modelos de projetos na área de educação ambiental para o resto do país.

 

No entanto, Maria Alice Alves acredita que é muito difícil recuperar as restingas, pois são frágeis ao impacto antrópico e apresentam características extremadas. “São exemplos dessas características salinidade e insolação elevadas, além de baixa retenção de água no solo”, afirma a bióloga. “Não é qualquer planta ou animal que consegue se adaptar a viver restritamente no ambiente de restinga.”

Andreia Fanzeres
Ciência Hoje on-line
30/07/03