Há muito tempo que as Ciências Humanas não trabalham mais com concepções de pureza cultural. As pesquisas sobre as fronteiras étnicas e as trocas culturais que elas possibilitam não apenas enriquecem o estudo sobre macroprocessos históricos (como a diáspora africana para as Américas) como demonstram que elas são, em si mesmas, fenômenos importantíssimos de serem compreendidos, por revelarem complexas dinâmicas de negociação e resistência. A presente atividade busca refletir sobre essas dinâmicas no caso das reelaborações de tradições de matriz Congo-Angola no Brasil, especificamente aquelas relacionadas à coroação do Rei e Rainha do Congo, e as celebrações ocorridas no âmbito das irmandades de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
A atividade parte de uma dinâmica de localização espacial. Em um mapa-múndi político atual, o docente deve localizar, com marcador permanente, as regiões aproximadas dos reinos de Kongo e Ngola. O mapa pode ser afixado no quadro da sala ou em uma de suas paredes. Em seguida, os estudantes serão divididos em grupos e deverão analisar algumas imagens com representações dos reis católicos do Kongo (link disponível em “Explore+”). A ideia é que eles consigam encontrar, nessas imagens, elementos tradicionais das monarquias católicas europeias, mas também elementos destoantes, que representem as adaptações às tradições locais.
A partir daí, o docente deve conduzir uma discussão com a turma, a partir das questões: quais interesses os reis do Kongo podem ter em incorporar o catolicismo às suas práticas culturais? Esse gesto representa um apagamento das tradições anteriores?
Após analisar as dinâmicas de poder envolvidas na apropriação do catolicismo por esse grupo, é importante caracterizar o reino do Kongo como um dos principais responsáveis pelo tráfico negreiro em África, de modo que os elementos discutidos até aqui atravessam o Atlântico e chegam ao Brasil.
Nessa etapa da atividade, os grupos de estudantes já previamente separados deverão ler trechos selecionados do artigo “A influência Kongo na cultura brasileira”, de Larissa Oliveira e Gabarra, publicado em CH 415. Cada grupo lerá um trecho correspondente à tradição de coroação do Rei e Rainha do Congo (e às celebrações ocorridas no âmbito das irmandades de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito) em cidades diferentes do Brasil e da América do Sul.
O trabalho a partir daí será aprofundar as pesquisas sobre essas manifestações culturais, com cada grupo apresentando para a turma os seus resultados. A ideia é que o foco dos grupos seja o caráter de resistência da permanência desses elementos. Em cada apresentação, a depender do tempo disponível, vídeos e imagens podem ser exibidos, bem como encenações das congadas e de outros festejos podem ocorrer.
Cada grupo deve localizar no mapa-múndi afixado na parede ou no quadro a(s) cidade(s) com a(s) qual(is) trabalhou, de modo que, ao final da atividade, a turma tenha montado um mapa de influências culturais do reino do Kongo na América do Sul atual. Imagens dos monarcas do Kongo e dos festejos nessas cidades também podem ser anexadas ao mapa, tornando-o ainda mais interativo.
WIKIPEDIA. Lista dos reis do Congo (com suas respectivas representações). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_reis_do_Congo .