O artigo de André Valle Nunes e Claudio Valladares-Padua intitulado “A socioeconomia do uso dos recursos naturais”, publicado em CH 424, apresenta um panorama amplo da socioeconomia extrativista no Brasil, refletindo sobre a indissociabilidade entre seus componentes ecológicos e sociais.
A sequência didática aqui proposta pretende aprofundar a historicidade de diferentes modalidades de relação de grupos humanos com as paisagens, refletindo sobre o uso de tecnologias ancestrais no presente como uma garantia de futuro.
A atividade aqui proposta parte de um roteiro de leitura do artigo de Nunes e Valladares-Padua publicado em CH 424. O artigo deverá ser distribuído aos estudantes (individualmente, em duplas ou em grupos), e questões norteadoras devem ser levantadas para a discussão de cada seção sua. Recomendam-se as seguintes:
Seção 1 – Introdução
– O que quer dizer extrativismo?
– No Brasil, quais atividades econômicas podem ser consideradas extrativistas?
– Quando pensamos em extrativismo, é possível fazer uma separação rígida entre aspectos ecológicos e aspectos sociais? Será que em algum contexto essa separação é possível?
Seção 2 – Para além da economia
– Como o extrativismo pode ajudar na conservação ambiental?
– Quais os problemas da monocultura para a conservação ambiental?
– O que são “populações tradicionais”? Elas possuem tecnologias que podem ser úteis nos dias de hoje?
Seção 3 – Socioeconomia: como funciona?
– O que quer dizer socioeconomia?
– Como a socioeconomia beneficia as comunidades tradicionais?
– Quais as vantagens da socioeconomia para o meio ambiente?
Seção 4 – Partilha da caça
– De que maneira o extrativismo pode gerar laços sociais entre as comunidades?
– O extrativismo é sempre uma atividade sustentável ambientalmente e benéfica socialmente? E nos casos do garimpo e da atividade madeireira?
Seção 5 – Mudanças climáticas: impactos
– Por que as mudanças climáticas ameaçam as atividades extrativistas?
– Por que as atividades extrativistas podem ajudar a conter as mudanças climáticas?
Seção 6 – Visão ampla e holística
– Por que a socioeconomia pode proporcionar uma visão “holística”, responsável por “integrar a conservação da biodiversidade com o fortalecimento das economias locais”?
Após a leitura direcionada do texto (que pode ser realizada integral ou parcialmente em sala) e do seu debate, recomenda-se a realização de uma atividade de pesquisa que permita caracterizar três tipos diferentes de atividade econômica:
A ideia é que os estudantes, em grupos, pesquisem a historicidade dessas práticas no Brasil e que apresentem um panorama delas ao longo de diferentes períodos históricos.
Como culminância da atividade, propõe-se o debate sobre duas citações relativas à relação de grupos humanos com as paisagens que os cercam: a primeira do líder indígena Ailton Krenak e a segunda do arqueólogo Eduardo Góes Neves. Seguem abaixo.
[O pensamento ocidental inventou] uma distinção entre humano e não humano. Uma distinção tão radical que sugere que humanos somos nós, que podemos imprimir a nossa marca sobre tudo o que nós achamos que não é humano, os oceanos e todos os seus trilhões de vidas, as paisagens todas da Terra, que nós pensamos poder derrubar, cortar, podar, plainar. Ora, essa técnica […] foi tão radical que está imprimindo neste lugar que nós compartilhamos, a Terra, uma marca tão profunda que pode inviabilizar a nossa experiência de continuar vivendo aqui, pelo menos da forma que os antigos humanos a conheceram […]. Vamos passar a ser uma única paisagem. Ora, se virar única, então não é paisagem. A natureza da paisagem é a pluralidade, a diversidade, é a sucessão. As paisagens se sucedem, ou então não são paisagens. Quando nós acabamos com todas as paisagens da Terra, nós entramos em coma. (Ailton Krenak, em entrevista a Pedro Cesarino)
Essas formas que a arqueologia mostra para nós, na Amazônia, estão ligadas à produção de paisagens, ao manejo da floresta, do solo. Ao aumento do que a gente chama de agrobiodiversidade, que é a variedade de plantas economicamente ou simbolicamente importantes nas áreas de entorno dos locais de moradia. E o agronegócio da monocultura está baseado no quê? No controle absoluto, na padronização. São sistemas de cultivos totalitários de certa maneira, porque estão baseados na massificação. São pouquíssimas variedades que são plantadas. […] Os nossos amigos, os nossos parceiros ribeirinhos, indígenas, eles valorizam muito, eles gostam da diferença pela diferença. Uma planta que às vezes [parece que] não serve pra nada, o cara traz pra casa. Essa ideia de valorização da diferença é muito forte na Amazônia. (Eduardo Neves, em entrevista ao InfoAmazônia)
NEVES, Eduardo Góes. Amazônia entre a milenar agrobiodiversidade e a destruição humana recente: entrevista com o arqueólogo Eduardo Neves. Disponível em: https://infoamazonia.org/2023/03/17/amazonia-entre-a-milenar-agrobiodiversidade-e-a-destruicao-humana-recente-entrevista-com-o-arqueologo-eduardo-neves/ . Acesso em setembro de 2025;
KRENAK, Ailton. As alianças afetivas: entrevista com Ailton Krenak por Pedro Cesarino. Disponível em: https://www.academia.edu/37323976/As_alian%C3%A7as_afetivas_entrevista_com_Ailton_Krenak_por_Pedro_Cesarino . Acesso em setembro de 2025;
ASCENSO, João Gabriel. Alianças afetivas contra a tragédia da paisagem unívoca: um olhar sobre o pensamento de Ailton Krenak. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/6577/657769472006/html/ . Acesso em setembro de 2025.