A contaminação por mercúrio é um horror no Brasil, principalmente para os povos originários que vivem na região amazônica, comprometendo seriamente o futuro das gerações das populações que dependem da pesca dos rios da região. O texto “Mercúrio e segurança alimentar”, publicado na coluna “Cultura oceânica” de edição 410 da CIÊNCIA HOJE, alerta que a contaminação por mercúrio atinge também os oceanos, e é magnificada biologicamente através da cadeia alimentar de espécies marinhas que englobam os invertebrados, herbívoros, onívoros, carnívoros e piscívoros, chegando ao consumo pelos humanos.
As fontes de contaminação são diversas e vão desde a mineração e o garimpo até aquelas onde o mercúrio entra na composição de objetos e materiais como lâmpadas, pilhas e amálgamas odontológicas.
O texto da CH 410 tece um panorama da contaminação por mercúrio e sua relação com a alimentação. Como dica para a sala de aula, primeiramente, há que se explicar aos estudantes alguns termos que aparecem no texto, como poluentes persistentes, efluentes, antrópico, biota, bioacumulação, biomagnificação, pelágico, estuário e piscívoros. Assim, a leitura ganha mais sentido para todos.
Outro ponto a se considerar é o potencial do texto para ensinar, reforçar ou revisar o conceito de mol associado aos átomos, íons e moléculas e sua correlação com o número de Avogadro (6.02214076×10²³ mol⁻¹) e a massa expressa em gramas ou seus múltiplos.
A dica de química de CH 410 reitera a importância de se discutir temas socioambientais em sala de aula como forma de construir uma consciência cidadã que pode levar a uma atitude transformadora individual e coletivamente.
Em aula anterior, o professor pode disponibilizar para a turma o texto da coluna “Cultura oceânica” publicado em CH 410 e intitulado “Mercúrio e segurança alimentar” e solicitar aos estudantes que leiam atentamente o material, destacando as palavras e conceitos que não entenderam para que sejam discutidos posteriormente.
Na aula seguinte, o professor deve iniciar um debate com a turma sobre o texto, onde o ponto central são as contaminações por mercúrio de fontes antrópicas (causadas pelo homem), as concentrações de mercúrio e de metilmercúrio nos alimentos. Em seguida, deve explicar os termos e os conteúdos que não foram bem compreendidos pelos estudantes para que dominem uma leitura crítica.
Então, passa-se para a etapa de entendimento do que acontece aos átomos de mercúrio no meio ambiente. Na reação 1 é apresentada, de forma geral, o ciclo biogeoquímico do mercúrio na natureza, ou seja, a transformação do mercúrio metálico (Hg0) em cátion mercúrio (Hg+2) e no metilmercúrio (CH3Hg+). Este último pode estar associado a um ânion X–, em geral Cl– e formar, por exemplo, CH3HgCl (cloreto de metilmercúrio).
Os fatores ambientais que levam a esta transformação são o ar, a água, a luz solar, as bactérias presentes no ambiente e a presença de outras espécies químicas. Acredita-se que o grupo metila, CH3, vem da metilcobalamina (vitamina B12) presente no ambiente.
Hg⁰ ⮀ Hg²+ ⮀ CH³Hg₊ (1)
Se a turma tiver aprendido a conversão de quantidade de matéria em gramas e número de entidades químicas (número de Avogadro), o passo seguinte pode ser o desafio de se calcular o número de mols de CH3HgCl e o número de mols de Hg presentes em 1.285 kg, que é a carga de metilmercúrio retirada anualmente por meio da pesca oceânica no Brasil.
Outro cálculo que pode ser feito é a estimativa de consumo máximo, de acordo com a contaminação, do pescado local. A legislação brasileira prevê um consumo semanal máximo de 0,5 mg/kg de Hg para 400 g de consumo de pescado semanal. Os dados abaixo foram extraídos da literatura e podem servir para uma estimativa de consumo semanal (a ser calculado pelos estudantes) para as populações daquelas localidades.
O professor pode, ainda, solicitar a expressão dos valores detectados de Hg em mols e em número de átomos de Hg.
Outros questionamentos podem ser feitos decorrentes das leituras e exercícios realizados. Será que as populações ribeirinhas têm ciência dessa contaminação?
Como tarefa de pesquisa, o professor pode pedir que os estudantes realizem mais cálculos de conversão utilizando-se o conceito de mol e número de Avogadro, inclusive com o auxílio do site “TranslatorsCafe”.
Algumas lacunas sobre o tema podem ser complementadas com as seguintes pesquisas: Quais são os sintomas de intoxicação por mercúrio? Como o mercúrio é eliminado pelo organismo humano? Qual é o tratamento por intoxicação por mercúrio? Quais são as fontes antrópicas de contaminação por mercúrio? O que diz a legislação ambiental brasileira sobre crimes ambientais?
BISINOTI, M. C.; JARDIM, W. F. O comportamento do metilmercúrio (metilHg) no ambiente. Química Nova, v. 27, n. 4, p. 593–600, jul. 2004.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e de Vigilância das Emergências em Saúde Pública. Orientações Para a Notificação de Intoxicações por Mercúrio [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 202. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_notificacao_intoxicacoes_mercurio_pdf. Acesso em julho de 2024.