Mergulho na Amazônia urbana

Mergulho na Amazônia urbana

O artigo de Ana Luiza Morais Soares intitulado “Mergulho na Amazônia urbana”, publicado na edição 411 da CIÊNCIA HOJE1, apresenta um panorama diacrônico da presença indígena em ambientes urbanos, desde as chamadas “cidades jardins” da Amazônia antiga até a atual presença marcante em centros urbanos como Belém e Manaus, além de várias outros. A partir desse artigo, podemos problematizar, por um lado, a associação imediata dos povos indígenas ao ambiente florestal, como se o espaço urbano lhes fosse extrínseco; e, por outro lado, a ideia de que a floresta Amazônica seria uma “floresta selvagem”, ou “virgem”, cuja composição não foi marcada pela presença de grupos humanos intervindo sobre sua paisagem.

Possibilidades de abordagem:

  • Explicar a diversidade sócio-organizacional da Amazônia Antiga, relacionando a presença de grupos humanos no bioma às paisagens lá construídas; 
  • Caracterizar as organizações urbanas presentes na Amazônia, anteriores à invasão europeia, em sua estreita ligação com a floresta e com práticas agrícolas diversas da monocultura; 
  • Analisar a diversidade da presença indígena atual em espaços urbanos, a partir do exame de trajetórias individuais.

Proposta de atividade:

A partir da leitura conjunta do artigo “Mergulho na Amazônia urbana”, de Ana Luiza Morais Soares, publicado em CH 411, propõe-se uma discussão associando urbanidade a povos indígenas. Para iniciar, imagens recentes, obtidas por meio da tecnologia do LIDAR, podem ser exibidas aos estudantes. O docente deve explicar o conteúdo dessas imagens, bem como a forma de ler os seus componentes. Essas figuras (indicadas nos anexos desse material), demonstram centros urbanos construídos em território amazônico antes da invasão europeia, em que a agricultura realizada se encontrava integrada tanto às dinâmicas da floresta quanto à dos centros habitacionais, espaços cívicos, praças e demais componentes dos espaços urbanos. Trata-se, portanto, de outra forma de se pensar urbanidade, uma forma que não a relaciona diretamente à devastação ambiental, produção de resíduos não biodegradáveis e crescimento desordenado.

É importante deixar claro que a presença desses espaços urbanos na Amazônia antiga não significa que essa era a única forma de vida dos povos amazônicos antes da chegada dos europeus: a diversidade era a regra no ambiente amazônico. E as diferentes maneiras de se relacionar com a floresta se relacionam à própria composição da paisagem amazônica – diversas espécies foram domesticadas e/ou transportadas de uma região para a outra, o que demonstra que a ideia de que a Floresta Amazônica seria uma “mata virgem” não se ampara na realidade. Esse debate pode ser realizado a partir de mapas que demonstram a diversidade de plantas domesticadas na região e processos de expansão de cultivo. 

Em um segundo momento, o docente pode fazer um contraponto com a realidade urbana atual dos povos indígenas. Como o artigo de Ana Luiza Morais Soares de CH 411 deixa claro, mais da metade dos povos indígenas da América vive em cidades. Se isso implica, por um lado, complexos processos de desterritorialização, por outro isso se reflete em práticas não menos complexas de apropriação de outros espaços e construção de novas identidades. Para esse segundo trabalho, indica-se que os discentes sejam divididos em grupos que deverão acessar diferentes documentos produzidos por indígenas urbanos e, em seguida, apresentar suas reflexões em um seminário. Algumas perguntas norteadoras poderão orientar essas apresentações, como: o que significa, para essa pessoa, ser um indígena em contexto urbano? Ela já nasceu em ambiente urbano ou não? Quais os desafios que o ambiente urbano apresenta para a identidade indígena? Como é possível se apropriar do espaço urbano? Que elementos da fala indicam formas de resistência?

Alguns dos documentos a serem analisados podem ser os próprios perfis, em redes sociais como o Instagram, de lideranças que já estão indicadas no artigo em questão, como Samela Staré-Mawé (@sam_sateremawe), Tukumã Pataxó (@tukuma-pataxo), Kauri Wajãpi (@daldeiaorei), Kaê Guajajara (@kaekaekae) e Katu Mirim (@katumirim). 

Alguns vídeos também podem ser utilizados, como a entrevista de Weena (povo Tikuna) e a crônica de autoria de Daniel Munduruku e narrada por ele mesmo, ambas indicadas no item “Explore +”. O livro de Aline Rochedo Pachamama chamado “Guerreiras: mulheres indígenas na cidade, mulheres indígenas da aldeia” também apresenta muitos relatos de mulheres indígenas em contexto urbano, constituindo um material riquíssimo.

Recursos utilizados:

  • Artigo “Mergulho na Amazônia urbana”, de Ana Luiza Morais Soares e publicado em CH 411, a ser entregue impresso aos estudantes; 
  • Computador e data show para exibição de imagens; 
  • Ambiente virtual para análise de perfis de lideranças indígenas e reprodução de vídeos.

Explore+

Imagens produzidas a partir de LIDAR sobre o Vale de Upano, no Equador.

Imagem produzida a partir de LIDAR sobre a região de Llanos de Mojos, na Bolívia.

Esquemas de áreas urbanas do Alto Xingu, anterior à presença europeia.

Mapa com dados relativos à dispersão de plantas domesticadas na Amazônia (4ª sugestão bibliográfica)

ROSTAIN, Stéphen et al. Two thousand years of garden urbanism in the Upper Amazon. Filadélfia, Science, 2024.

PRÜMERS, HEIKO et al. Lidar reveals pre-Hispanic low-density urbanism in the Bolivian Amazon. Londres, Nature, v. 606, 2022.

HECKENBERGER, Michael J. Lost Cities of the Amazon: The Amazon tropical forest is not as wild as it looks. Scientific American, 2009.

LOPES, Reinaldo José. Civilizações pré-colombianas moldaram vegetação da Amazônia. Folha de São Paulo, 02 fev. 2017. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/03/1863192-civilizacoes-pre-colombianas-moldaram-vegetacao-da-amazonia.shtml>. 

PACHAMAMA, Aline Rochedo. Guerreiras: mulheres indígenas na cidade, mulheres indígenas da aldeia. Rio de Janeiro: Pachamama, 2018.

Vídeo: Povos indígenas do Brasil: Weena fala sobre o povo Tikuna e preconceitos que enfrenta – Sexta Black. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HCKi7TiHIZM&t=290s>. 

Vídeo: Indígena em contexto urbano: o brasileiro que o Brasil precisa (Daniel Munduruku). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GFC5_1rqwBc>.