O homem de Piltdown, uma ‘fake news’ arqueológica

BASTIDORES DA CIÊNCIA
O homem de Piltdown, uma ‘fake news’ arqueológica

Uma das maneiras mais interessantes de pensarmos os debates sobre evolução humana, desde o século XIX, é através da ideia de um quebra-cabeça, cujas peças vão sendo encontradas muito lentamente e no qual ainda há muitas peças faltando – e mesmo algumas peças que pareciam encaixar eventualmente se provam no lugar errado. 

A partir das investigações sobre uma fraude científica, o artigo “O homem de Piltdown, uma ‘fake news’ arqueológica”, de autoria de Leandro Lobo e publicado em CH 408, pode levantar o debate sobre esse tema e complexificar certas visões cristalizadas e lineares sobre o que é o processo de evolução da nossa espécie. 

Possibilidades de abordagem:

  • Caracterizar artefatos e ecofatos, explicando como essas fontes são importantes para o estudo da evolução humana; 
  • Analisar a complexidade do processo de evolução humana através da ideia de um quebra-cabeça, do qual participam diversas espécies e que ainda não está totalmente montado; 
  • Identificar que tipo de representação é mais adequada a essa construção da ideia de evolução como um quebra-cabeça;
  • Associar as características conhecidas sobre algumas espécies de hominídeos às fontes materiais às quais tivemos acesso e às formas de interpretá-las.

Proposta de atividade:

A ideia desta atividade não só é familiarizar os estudantes com o debate acerca da evolução humana como explicitar os métodos através dos quais esses conhecimentos são construídos – afinal, até mesmo as fraudes, para serem levadas a sério, precisam reivindicar que provêm de uma metodologia científica.

Para isso, recomenda-se a leitura em sala de aula do artigo de Leandro Lobo publicado em CH 408 e, em sua segunda parte (“Ancestral à inglesa”), que seja solicitado que os estudantes identifiquem as fontes a partir das quais os cientistas inferiram que a espécie supostamente encontrada se alimentava basicamente da caça. A resposta deve caminhar na direção de que se trata de ossos de animais, alguns dos quais extintos (fato que inclusive teria ajudado na datação do sítio). 

Esse método de associação entre ossos de fauna e ossos de ancestrais humanos é amplamente utilizado no estudo da evolução humana para investigar hábitos e modos de vida dos nossos ancestrais e deve servir para a introdução sobre o conceito de ecofato: ao contrário dos artefatos, objetos intencionalmente produzidos pelos seres humanos com diversas finalidades (cotidianas, de subsistência, artísticas), os ecofatos são vestígios da natureza que podem, quando associados a outros elementos, fornecer indícios da vida de grupos humanos ou de ancestrais humanos. Os próprios ossos humanos e de hominídeos entram nessa categoria. 

A partir daí, a ideia da evolução humana como um quebra-cabeça pode começar a ser desenvolvida. O docente deve mostrar dois exemplos de esquemas de evolução e pedir para os estudantes os compararem. Um deles é a linha evolutiva clássica dos grupos humanos que parte de um australopiteco e caminha para Homo habilis, Homo erectus, Homo neanderthalensis e Homo sapiens (anexo 1). 

A outra é uma árvore filogenética mais complexa, em que fica evidente a construção desse debate como um “quebra-cabeça” (figura 2 em “Explore+”). Os estudantes devem debater a respeito de qual representação dá conta de explicar melhor o processo estudado. 

Finalmente, recuperando a ideia de que os conhecimentos sobre essas espécies dependem da interconexão de diferentes vestígios, algumas informações sobre as espécies que apareceram na aula devem ser levantadas, como: 

  • Homo habilis – espécie mais antiga que sabemos que construiu ferramentas;
  • Homo erectus – espécie mais antiga que sabemos que utilizou o fogo;
  • Homo neanderthalensis – espécie que conviveu com a nossa. 

Em seguida, os estudantes devem ser divididos em grupos e debater a respeito de quais fontes e vestígios levaram os paleoarqueólogos a chegarem a essas conclusões. 

Em um segundo momento, de socialização, o docente deve valorizar as hipóteses dos alunos, reforçando que, para a construção de um conhecimento científico consistente e resistente a fraudes, as hipóteses devem ser testadas diversas vezes e é desejável que se possa repetir esse procedimento com diferentes fontes e vestígios. 

Recursos utilizados:

  • Artigo de Leandro Lobo publicado em CH 408, a ser entregue impresso aos estudantes; 
  • Data show para a projeção de imagens com representações da evolução humana; 
  • Caneta e papel para que os estudantes desenvolvam suas hipóteses sobre as espécies do gênero Homo.

Explore+

IMAGEM LINEAR TRADICIONAL ASSOCIADA À EVOLUÇÃO HUMANA

Figura 1- Retirada de: https://www.significados.com.br/evolucao-humana/

ÁRVORE FILOGENÉTICA RELATIVA À EVOLUÇÃO HUMANA

Figura 2- Retirada de: https://app.estuda.com/questoes/?id=4074029