O efetivo cumprimento da lei 10.649/2003, complementada pela lei 11.645/2008, que determina o ensino de História e cultura africana, afro-brasileira e indígena em todas as escolas do país, não envolve apenas o ensino de temas e processos vinculados à história e trajetórias desses grupos, mas também a apropriação de seus conceitos e formas de agência pela comunidade escolar, de modo a construir relações e saberes alternativos à racionalidade ocidental hegemônica. A proposta a seguir vai nessa direção.
Propõe-se iniciar a aula com a realização de um mapa mental em que os alunos indiquem o que vem à sua mente quando eles escutam a palavra ‘quilombo’. É possível que apareçam ideias relacionadas ao passado escravista do Brasil e à resistência à escravidão. Talvez, algum estudante recupere a possibilidade de que ações de resistência próximas às dos quilombos sigam existindo até hoje. Caso isso ocorra, a ideia deve ser valorizada pelo docente. Caso não ocorra, o docente deve provocar a turma no sentido de pensar se o quilombo pode ser compreendido, não apenas como um espaço físico de resistência, mas como uma forma de estar no mundo.
Na sequência, seria interessante discutir o conceito de aquilombamento a partir de alguns materiais. Sugerimos o poema “Tempo de nos aquilombar”, de Conceição Evaristo, o vídeo “Aquilombamento na prática”, da comunicadora Ana Paula Xongani, e o podcast “É tudo quilombo?”, de autoria da produtora e gestora cultural Stéfane Souto, especialmente seu episódio 1, “Aquilombar-se aqui e agora”.
Outra possibilidade é iniciar a discussão sobre aquilombamento a partir da ideia de quilombismo, de Abdias do Nascimento, o que propiciaria o debate a respeito de uma das mais importantes lideranças negras do Brasil. Nesse caso, sugere-se o verbete ‘quilombismo’, no sítio eletrônico do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). A escolha dos materiais deverá depender da idade dos alunos e da familiaridade com a discussão.
A partir do momento em que a atualidade das práticas de aquilombamento já houver sido discutida com a turma, sugere-se a leitura do artigo “Os ‘novos quilombos’ e os desafios da ‘velha escola’”, da Revista Ciência Hoje. Nele, é possível identificar como práticas associadas aos quilombos permanecem atuais em determinados espaços territorial e simbolicamente relacionados à luta de populações afrodescendentes, impactando inclusive a educação escolar.
Como atividade avaliativa, é possível que o docente proponha que os estudantes, em grupo ou individualmente, pensem em estratégias para aquilombar o espaço da escola onde estudam. Seria muito interessante e produtivo que essa proposta se desdobrasse em práticas, intervenções, ações e projetos que envolvessem toda a comunidade escolar.
Aquilombamento na prática. Vídeo no perfil do Youtube de Ana Paula Xongani. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dX5YLl20rG4
Aquilombar-se aqui e agora. Primeiro episódio do podcast “É tudo quilombo?”, produzido por Stéfane Souto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jk-3vyvrp2s&t=222s
Quilombismo. Verbete do sítio digital do IPEAFRO, com compilação de materiais produzidos por Abdias do Nascimento. Disponível em: http://www.abdias.com.br/movimento_negro/quilombismo.htm.
Tempo de nos aquilombar. Poema de Conceição Evaristo. Disponível em: http://culturadorn.blogspot.com/2021/07/tempo-de-nos-aquilombar-conceicao.html.