Salvem as toninhas

A conservação da toninha (Pontoporia blainvillei), espécie de golfinho endêmica do Atlântico Sul, está ameaçada na costa gaúcha, e o seu desaparecimento pode comprometer o equilíbrio da biodiversidade local. Foi o que concluiu o oceanógrafo Emanuel Carvalho Ferreira, do Laboratório de Mamíferos Marinhos da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).

Estudos realizados pela equipe de Ferreira mostraram que o alto índice de mortalidade da toninha está ligado à captura acidental pela pesca de emalhe – prática que consiste em manter redes no fundo do mar, com o auxílio de equipamentos flutuadores, para prender peixes.

A toninha é uma espécie de golfinho de pequeno porte – quando adulta, mede entre 1,30 m e 1,70 m de comprimento. De bico comprido e coloração amarronzada, tem hábitos costeiros, que estão ligados à procura de alimento e à proteção contra predadores.

Por ocorrer em águas rasas, é um animal sensível aos efeitos das atividades humanas. “A pesca de emalhe é direcionada a peixes, mas como as redes são muito extensas e ficam longo tempo no mar, acabam capturando uma fauna indesejada, como a toninha e outros tipos de animais, entre eles tartarugas marinhas e até aves”, explica Ferreira.

Toninhas mortas
Grupo de toninhas mortas, em 2002, após captura acidental em rede de pesca no litoral de Rio Grande (RS). (foto: Emanuel Carvalho Ferreira/ Furg)

Recomendações

Pesquisas como a de Ferreira resultaram em uma série de recomendações reunidas no Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pequeno Cetáceo Toninha. Entre elas, está a diminuição do tamanho das redes de pesca, que chegam a medir até 30 km de comprimento por 4 m de altura.

Além disso, em estudo realizado com o apoio da Fundação Grupo Boticário, Ferreira simulou cenários de exclusão da pesca em determinadas regiões. Ele observou que, se fosse criada uma área de proteção de até 20 m de profundidade, a redução na captura de toninhas seria de 72%.

Segundo Ferreira, os efeitos de uma possível extinção da espécie não seriam sentidos de imediato. “As consequências podem acontecer em longo prazo, mas causariam dano a todo o ecossistema. É isso que precisamos evitar”, ressalta.

Os próprios pescadores locais têm papel importante no projeto de preservação da toninha. Eles podem fornecer informações que permitam conhecer melhor a distribuição e o comportamento da espécie.

Legislação

O pesquisador explica que a pesca de emalhe não tinha regulamentação definida até o ano passado. “A atividade começou de forma artesanal e cresceu muito rapidamente, dificultando a intervenção da lei. Hoje, as embarcações têm equipamentos muito sofisticados, como o GPS, para auxiliar a prática.”

“Esperamos que os pescadores se conscientizem e compreendam a importância de diminuir gradualmente o tamanho das redes e de respeitar as áreas de proteção”

Só em agosto de 2012, a partir do avanço nos estudos dos pesquisadores e do apoio de pescadores, uma nova legislação limitou as áreas de pesca e o comprimento das redes usadas na costa litorânea gaúcha para 16 km. Foram estabelecidos ainda critérios para emprego de redes de emalhe em águas brasileiras.

Mas Ferreira acredita que isso ainda não é suficiente. “Esperamos que os pescadores se conscientizem a respeito da conservação da toninha e compreendam a importância de diminuir gradualmente o tamanho das redes e de respeitar as áreas de proteção”, diz o pesquisador.


Marina Sequinel
Especial para a CH On-line/ PR