Sapo novo no cerrado

 


O Chaunus veredas , recentemente descoberto no sudoeste baiano, é menor do que as outras espécies de sapo-cururu conhecidas. (Crédito: Reuber Brandão)

Uma nova espécie de sapo acaba de ser identificada no sudoeste baiano. Batizado de Chaunus veredas , o animal se diferencia de outros do mesmo grupo por seu tamanho pequeno em relação à média e sua coloração. O novo sapo habita regiões de cerrado, o que evidencia a necessidade de mais estudos para desvendar a grande biodiversidade ainda não revelada desse bioma. 
 
O sapo foi encontrado em 2002, quando o herpetólogo Reuber Brandão, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), foi contratado para realizar um levantamento da fauna do Parque Grande Sertão Veredas, localizado no norte de Minas Gerais, na divisa com a Bahia. “Assim que vi o animal, desconfiei que se tratava de uma espécie nova”, afirma Brandão. 
 
Algumas características inéditas do novo sapo em relação a outras espécies de sapo-cururu – como são conhecidos os sapos comuns – chamaram a atenção do pesquisador. Entre elas estão o crânio pouco ossificado e o tamanho pequeno em relação à média. A fêmea do C. veredas pode medir de 8,3 a 11,8 cm de comprimento e o macho de 8,7 a 11 cm; já as espécies maiores de sapos-cururus variam de 15 a 25 cm. 
 
Outro traço que diferencia o C. veredas é a coloração homogênea e amarelada dos machos da espécie. As fêmeas têm o corpo com padrão marmoreado nas cores marrom-atijolado e verde-água ou azul-piscina. 
 
O novo sapo habita predominantemente formações abertas de cerrado e áreas de solos arenosos. No período de seca, ele permanece enterrado e só sai nas estações chuvosas, para se alimentar e se reproduzir. Uma característica bastante peculiar da espécie é seu comportamento explosivo na reprodução: todos os indivíduos saem da terra na mesma época. Além disso, ao contrário das outras espécies de sapo-cururu, os machos de C. veredas tornam-se aptos à reprodução antes das fêmeas. 
 
Como os outros representantes do grupo marinus , que agrega diversas espécies de sapo-cururu, o C. veredas se alimenta de invertebrados. Como mecanismo de defesa, ele realiza o processo de tanatose, que consiste em se fingir de morto ao se deparar com um predador. Esses animais também têm glândulas que liberam substâncias tóxicas com sabor desagradável, fazendo com que o predador desista do sapo como comida. 
 

Da descoberta ao reconhecimento 

Os machos de C. veredas têm coloração homogênea e amarelada, enquanto as fêmeas têm o dorso marmoreado de cor marrom-atijolada e verde-azulada. (Crédito: Reuber Brandão)

Do contato com o sapo até sua catalogação, passaram-se aproximadamente cinco anos. “Primeiro tivemos que fazer um levantamento de bibliografia, comparar o nosso material com outros estudos sobre sapos, investigar acervos de espécies já descritas para então comprovar que se tratava de uma nova espécie”, conta Brandão. A descrição do C. veredas , que contou com a participação dos biólogos Natan Maciel e Antonio Sebben, ambos do Departamento de Ciências Fisiológicas da UnB, foi publicada na edição de junho do periódico científico Journal of Herpetology
 
O nome C. veredas foi inspirado no local onde a espécie foi descoberta: o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, que faz referência ao clássico da literatura escrito por Guimarães Rosa. O parque foi assim batizado porque as veredas são ambientes característicos do cerrado. 
 
A descoberta do C. veredas exemplifica a imensa diversidade de animais existente no cerrado brasileiro e evidencia a necessidade de proteção desse bioma. Diante disso, o Parque Nacional Grande Sertão Veredas ampliou sua área de preservação: do ano de 2002, quando a nova espécie foi descoberta, ao ano de 2006, passou de 84 mil para 231 mil hectares. 
 
Para Brandão, não é surpresa encontrar animais desconhecidos da ciência na região. “Há muitas espécies que ainda precisam ser descobertas e estudadas, ecossistemas a serem explorados. A surpresa foi encontrar uma nova espécie de sapo-cururu, pois se imaginava que esse grupo já estava mais bem definido”, explica o herpetólogo, acrescentando que ainda há muito a ser feito quanto ao estudo dos grupos taxonômicos existentes na fauna e flora brasileiras. 
 
 

Rachel Rimas 

Ciência Hoje On-line 
31/07/2007