Se dormir, não dirija

 

Atos falhos matinais comuns como pentear o cabelo com uma escova de dentes, jogar roupa suja na privada e colocar o café na geladeira acabam de ganhar uma explicação científica. Pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, analisaram respostas de voluntários a questionários e concluíram que oito horas de sono podem deixar o cérebro mais grogue do que quando se fica 24 horas sem dormir ou até quando se bebe alguns drinques a mais.
 
Na pesquisa, coordenada por Kenneth Wright, voluntários responderam repetidamente a testes cognitivos de matemática logo após acordarem e nas 26 horas seguintes. Os exercícios consistiam em simples somas de números de dois dígitos. Durante os seis dias em que foram monitorados, os indivíduos não ingeriram medicamentos, álcool, nicotina, cafeína ou drogas ilícitas. Nenhum deles tinha problemas médicos, psiquiátricos ou de sono.
 
O desempenho dos participantes foi medido pelo número de acertos nas provas. No primeiro teste do dia, feito assim que os voluntários acordaram, durante a chamada inércia do sono, o resultado foi o pior entre todos. Os indivíduos acertaram, em média, apenas 65% do número de pontos que fizeram no pico de atividade do cérebro, quatro horas após o despertar. Mesmo nos testes feitos após 26 horas sem dormir, os resultados foram melhores. “Os efeitos da inércia do sono sobre as tarefas cognitivas podem ser tão ruins ou até piores do que estar bêbado”, afirmou Wright em comunicado à imprensa.
 
A inércia do sono ocorre devido à demora na ativação de uma área do cérebro, o córtex pré-frontal. Essa região é responsável pela resolução de problemas, pelo lado emocional e por pensamentos complexos. “Nosso cérebro não pode ir de 0 a 100 quando acordamos”, comparou Wright. Segundo ele, os efeitos mais graves da inércia do sono ocorrem nos primeiros dez minutos após o despertar, mas podem durar até duas horas em alguns casos.
 
O estudo, publicado no Journal of the American Medical Association de 11 de janeiro, traz implicações para profissionais que precisam ser acordados subitamente para responder a emergências. Médicos e bombeiros são, segundo os pesquisadores, os mais afetados pela inércia do sono: sem estar 100% acordados, eles devem tomar decisões precisas em situações de estresse. No caso de motoristas de caminhão que tiram breves cochilos em seus próprios veículos, Wright diz que são necessários estudos que testem os efeitos dessas sonecas em pessoas que dormem pouco.
 
Porém, não só profissionais são prejudicados por esse período grogue. “Se uma pessoa for acordada por um alarme de fogo de madrugada e estiver sozinha, pode não ser capaz de superar a inércia do sono e solucionar o problema”, afirma Wright.

Júlio Molica
Ciência Hoje On-line
24/01/2006